Perdido em Marte (The Martian - 2015)
Estreando com um timing perfeito, já que a NASA recentemente afirmou haver água em Marte, esse é o primeiro grande filme de Ridley Scott em muito tempo. Arrisco ir além, após algumas incursões desastradas no gênero da ficção científica, o diretor consegue aqui um resultado que faz justiça aos seus clássicos: “Blade Runner – O Caçador de Androides” e “Alien – O Oitavo Passageiro”. Um misto de “Gravidade”, “Náufrago” e “Interestelar”, que consegue ser melhor que essas três produções. E vale mencionar que a solução encontrada para aprofundar o arco narrativo de um personagem que passa todo o tempo isolado, o ato de se manter gravando o registro de sua jornada, é mais verossímil que Tom Hanks e sua superestimada bola Wilson.
O elemento da ciência, especialmente, raramente foi tratado com tanto respeito no cinema, com o astronauta, vivido brilhantemente por Matt Damon, utilizando-a amplamente na superação de seus vários obstáculos, dado como morto por sua equipe em solo marciano, trabalhando o leitmotiv da potencialidade humana, uma visão otimista e intelectualmente madura, um contraste interessante em um período dominado pela distopia na indústria. Até mesmo o recurso do 3D, usualmente dispensável, é utilizado com esperteza pela fotografia de Dariusz Wolski, sempre se beneficiando da profundidade de campo, explorando a dimensão do planeta, o que intensifica sobremaneira a tensão e a claustrofobia de algumas cenas importantes.
A composição tridimensional de Damon, indo da resiliência inconsequente ao desespero existencial, que facilita tremendamente o investimento emocional do público no terceiro ato, injeta humor na medida certa, demonstrando a segurança do roteiro de Drew Goddard, que adapta com fidelidade o ótimo livro de Andy Weir, sobrando espaço para referências inteligentes de várias mídias. Só por não haver qualquer envolvimento romântico clichê, o texto já merece palmas de pé. É contagiante testemunhar o esforço criativo do astronauta, numa elegante montagem que, com grande senso de ritmo, alterna suas aventuras, pequenas grandes conquistas e eventuais frustrações, com a angustiante interação de sua equipe na Terra, com destaque para as fortes presenças dos sempre competentes: Jessica Chastain e Chiwetel Ejiofor.
“Perdido em Marte” é, acima de tudo, muito divertido. Elemento que gradativamente foi sendo extirpado da ficção científica, um reflexo de nosso tempo mais cínico.
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