domingo, 11 de outubro de 2015

Guilty Pleasures - "Top Gang 2 - A Missão"

Link para os textos do especial:


Top Gang 2 – A Missão (Hot Shots! Part Deux! – 1993)
Como tentar transportar o leitor adolescente de hoje para o contexto em que vivi a experiência desse filme? Era uma realidade tão diferente. Pra começo de conversa, consigo me lembrar da exata sensação de euforia que sentíamos ao adentrar uma locadora de vídeo, com o intuito de selecionar quais títulos iriam nos consumir o tempo do final de semana. Uma boa comédia, mais do que qualquer outro gênero, era o sinônimo de família reunida. Num final de tarde, estava eu, com meu pai, na “RG Vídeo”, quando o atendente sinalizou a devolução do mais novo fenômeno de locações, a sequência de “Top Gang – Ases Muito Loucos”. O grande atrativo, você veja só, era um bônus que vinha antes do filme, um trecho do grande sucesso da época: “Mr. Bean”, se não me falha a memória, o encontro dele com a rainha da Inglaterra. Eu juro, tinha gente que alugava mais pra poder rir do Rowan Atkinson, em franca ascensão no Brasil naquele ano.

O pôster que eu tinha no meu quarto na infância não deixa negar, o Rambo era um dos meus heróis favoritos, o livro de David Morrell, a versão de bolso da série: “Campeões de Bilheteria”, era minha “Turma da Mônica”, então fiquei entusiasmado com aquela paródia, esse era o grande atrativo. O primeiro filme é tecnicamente melhor, mais redondo, focando as brincadeiras em apenas um projeto, porém, não tinha me agradado muito. Já o segundo, inferior em todos os aspectos, sempre me fez rir. O letreiro inicial, com o datilógrafo tendo dificuldade em escrever uma palavra, dá o tom da palhaçada, um humor menos elegante do que “Apertem os Cintos, O Piloto Sumiu” e “Corra Que a Polícia Vem Aí”, com um clima constante de brincadeira da galera do fundão da sala de aula. Comparado aos vergonhosos similares realizados hoje em dia, pode ser considerado uma obra-prima.

Saddam Hussein vibrando ao assistir Arsenio Hall na televisão, biscoitinhos servidos de um busto de Abraham Lincoln, duas das várias piadinhas bobas que o roteiro joga logo nos primeiros minutos. É trivial, não há como disfarçar, risada sem contundência. O negócio começa a melhorar quando acompanhamos a viagem do Coronel Trautman genérico, vivido pelo próprio Richard Crenna, para a Tailândia, ao encontro de Topper Harley, Charlie Sheen na melhor fase de sua carreira, antes de virar uma paródia de si mesmo. Essa sequência conseguia homenagear, ao mesmo tempo, “Rambo 3” e “Kickboxer – O Desafio do Dragão”, duas das fitas que eu mais alugava. Nunca mais eu conseguiria ver a cena dos punhos dos lutadores no vidro sem sentir falta das jujubas e do doce de leite. Era a maior curtição ficar tentando captar todas as referências, que, vale dizer, não eram nada sutis. O mais interessante é que muitas das falas mais engraçadas eram tiradas quase que ipsis litteris dos diálogos em “Rambo 3”, salientando o fato de que o diretor Jim Abrahams estava conduzindo a paródia de uma paródia que se levava a sério. São muitas as cenas que funcionam no segundo ato. Só de me lembrar do momento de tensão sexual no banco de trás da limousine, ao som de “I’m So Excited”, com o motorista aproveitando a vista com óculos 3D e comendo pipoca, não consigo segurar o riso. Eu veria um filme inteiro composto dos bastidores das filmagens desse filme, imagino a diversão desse elenco no set.

É uma pena que não tenham realizado uma terceira parte. Com certeza seria mais um prazer culposo nesse especial.

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