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O Ciclo do Pavor (Operazione Paura – 1966)
Eu posso citar duas cenas, das várias espetaculares na trama,
que justificam a presença desse filme em qualquer lista respeitável de melhores
do gênero. 1) O momento em que a pequena Melissa, vivida pelo garoto Valerio
Valeri, induz outra jovem ao suicídio, representado na imagem que emoldura a
postagem. 2) A sequência onírica em que o protagonista, o médico vivido por
Giacomo Rossi-Stuart, percebe que está perseguindo a si próprio num ambiente
que se repete a cada atravessar de uma porta. Aliás, vale ressaltar que essa
cena impressionante serviu de inspiração para o clímax de “Twin Peaks”, de
David Lynch. Em outros aspectos da trama, como a relação da baronesa com sua
filha falecida, podemos notar a inspiração para o primeiro “Sexta-Feira 13”. É
fácil notar também a influência da atmosfera deste, com a batalha entre o
racional/médico e o sobrenatural/superstições, em “O Homem de Palha”, de 1973.
Filmado em apenas doze dias, com pouquíssima verba, o mestre
italiano Mario Bava consegue estabelecer um clima gótico de intensa
inquietação, acertando ao apostar na sutileza, o medo que é sugerido na cena e
alimentado na imaginação do espectador. É incrível a facilidade com que a
fotografia nos insere numa espécie de limbo temporal, indefinido, tornando a
subversão desse tempo, no terceiro ato, totalmente desconcertante para os
personagens e para o público. O detalhe da bola da menina sendo usado como
totem de sua presença, como na ótima cena da escadaria em caracol, é um exemplo
perfeito de como esconder o monstro é sempre mais eficiente. Federico Fellini assistiu
com atenção essa obra, copiando a imagem da menina fantasmagórica em “Histórias
Extraordinárias”, de 1968. Por mais que muitos acreditem que foi uma homenagem,
o próprio Bava afirmava, com ressentimento, que havia sido plagiado.
Como o orçamento acabou antes das filmagens acabarem, o diretor
precisou utilizar trechos das trilhas de seus filmes anteriores, algo que
trabalhou a favor do resultado, acentuando o clima de estranheza, um
pesadelo elegante. Como esquecer a câmera em pêndulo, logo no início,
refletindo o balançar da menina que, onisciente, vigia os habitantes do
vilarejo amaldiçoado?
* O filme está sendo lançado, em versão restaurada, pela distribuidora Versátil, como parte da caixa "Obras-Primas do Terror 2", que também traz: "Lisa e o Diabo", "A Mansão do Inferno", "Martin", "Pelo Amor e Pela Morte" e "Terror nas Trevas", além de vários extras fantásticos. Essencial para os fãs do gênero.
Tive o prazer de adquirir a coleção "Obras-primas do terror", que já está no terceiro volume. Esta semana assisti "O ciclo do pavor" e "Lisa e o diabo". Gostei demais de ambos. As cenas que você citou do primeiro são fascinantes, e "Lisa e o diabo" não me sai da cabeça! Muito bom texto!
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