terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

"Toda Terça-Feira" / "Ao Seu Lado"


Toda Terça-Feira (52 Tuesdays - 2013)
O conceito por trás do filme é melhor que o resultado final, tendo sido filmado apenas nas Terças-Feiras de um ano, com a temática sendo escolhida após essa decisão e os roteiros de cada dia de filmagem sendo elaborados na semana anterior. Essa experimentação é perceptível na forma desequilibrada que a trama se desenvolve, com lacunas de desenvolvimento narrativo nascendo de um interesse maior em causar choque e chamar atenção pela estética, mais do que pela substância.

A ideia de narrar os reencontros semanais de uma filha adolescente com sua mãe, que acaba de sofrer uma operação de mudança de sexo, tinha tudo para ser, no mínimo, interessante, mas a diretora australiana Sophie Hyde derrapa em alguns aspectos importantes nesse seu primeiro longa-metragem, como o contraste de qualidade entre o nível de atuação do restante do elenco e o dos protagonistas, Tilda Cobram-Hervey e, especialmente, Del Herbert-Jane, que é um transgênero real. Também é problemática a função do personagem do pai, vivido por Beau Travis Williams, no arrastado terceiro ato, potencializando ainda mais a pegada panfletária do projeto.

Mas o principal equívoco reside na repetição exagerada, praticamente didática, do leitmotiv que une mãe e filha na mesma rota de evolução existencial, batendo pesado na tecla de que ambas estão se tornando versões mais autênticas de si próprias. A sutileza, nesse caso, teria sido muito mais eficiente.


Ao Seu Lado (Next To Her - 2014)
O diretor israelense Asaf Korman, em seu primeiro longa-metragem, desenvolve com segurança os personagens desse intenso e sombrio drama claustrofóbico sobre uma mulher que cuida de sua irmã com problemas mentais, uma espetacular interpretação de Dana Ivgy, uma atriz que eu não conhecia, mas farei questão de assistir seus outros trabalhos. O roteiro, escrito em parceria com a esposa Livon Ben Shlush, que interpreta a protagonista, é inspirado na experiência da própria com sua irmã. Ao rejeitar a ideia de colocar a irmã em um asilo, ela acaba exercitando inconscientemente uma dominação física e mental, deixando a jovem presa sozinha em seu apartamento, enquanto está trabalhando.

Em alguns momentos, senti sutis referências no tom a “Gêmeos – Mórbida Semelhança”, de Cronenberg, e até ao clássico “O que Terá Acontecido a Baby Jane”, de Aldrich, enquanto vamos percebendo o desmoronamento psicológico da garota que vive apenas pela irmã mais nova, passando a sentir uma crescente necessidade de extravasar a angústia com o primeiro homem que demonstra algum interesse, o professor de educação física Zohar, que inicialmente parece trazer equilíbrio na relação das duas, mas ele se mostra muito mais permissivo e carinhoso ao cuidar da garota, o que faz destravar em sua namorada o “gatilho” emocional de uma mente perturbada.

O diretor trabalha visualmente essa gradual evolução obsessiva das duas, mostrando elas compartilhando escovas de dente ou simplesmente juntas numa banheira, com as pernas cruzadas, como se fossem uma única pessoa.

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