quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

"Você Não Me Pega, Papai", de Daniel Wolfe


Você Não Me Pega, Papai (Catch Me Daddy - 2014)
É promissora a estreia do britânico Daniel Wolfe em longas, ajudado no roteiro pelo irmão Matthew, com uma pegada que remete aos trabalhos de Sam Peckinpah, surpreendendo pela tranquilidade com que estabelece a trama aparentemente simples que envolve um casal em fuga, mas que aliada à fotografia de Robbie Ryan, ganha ares de um sombrio conto de fadas. Laila, vivida com competência pela estreante Sameena Jabeen Ahmed, é uma adolescente paquistanesa que decide ir contra seu pai repressivo, fugindo com seu namorado escocês Aaron, vivido por Conor McCarron, para uma idílica vida nas montanhas a base de lisérgicos.

É louvável a crença do roteiro na inteligência de seu público, já que limita os diálogos expositivos ao mínimo, com destaque para uma excelente montagem que combina uma cena de dança do casal, desfrutando daquela ilusória paz, com a aproximação de seus perseguidores. Vale destacar a forma como o filme trabalha a ideia da tradicional “morte honrada” muçulmana, solução buscada pela família da garota, aliada à gradual e sutil evolução de Aaron, que é mostrado cada vez mais adotando o senso de controle machista, refletindo exatamente o marido que ele poderia ser no futuro, não muito diferente dos radicalismos do pai da jovem. Até mesmo os brutais caçadores, como o vivido por Gary Lewis, ainda que monstruosos, não são escritos como caricaturas, tornando-se fascinantes, ao invés da via fácil que os tornaria repulsivos.

O terceiro ato tem falhas toleráveis, certo desequilíbrio entre a necessária resolução dos arcos narrativos e um desejo de também satisfazer em seu desfecho como produto do gênero thriller, mas são problemas compreensíveis, afinal, felizmente, Wolfe arrisca bastante. Fiquei curioso para acompanhar o diretor em seu próximo projeto, torcendo para que ele se mantenha com a mesma ousadia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário