quarta-feira, 17 de setembro de 2014

"Pietá", de Kim Ki-duk


Pietá (Pieta - 2012)
A estética busca chocar o espectador, com farta utilização de câmera tremida e enquadramentos bizarros, utilizando o zoom como se uma criança tivesse roubado a câmera do pai. A trama pede este estilo? Com certeza, não. A história é rasa e caberia em um bom curta-metragem. A gordura extra consiste em cenas de gratuita violência ou repetições imagéticas típicas de cineastas pseudo-cults, daqueles que se regozijam em indicar nos créditos iniciais que este é seu projeto de número "x".

O diretor Kim Ki-duk nos apresenta um estudo pretensioso sobre a insensibilidade, física e moral. Para deixar bem clara sua tese, ele insere duas cenas onde o protagonista e a mulher misteriosa que diz ser sua negligente mãe, interrompem o fechar de uma porta com as mãos, sem denunciar qualquer abalo emocional. Poderia se dizer que estas cenas representam obstáculos psicológicos intransponíveis, mas na realidade não é nada tão profundo, apenas duas pessoas que se mostram apáticas. Sentimento que é reforçado diversas vezes, como no momento em que o jovem corta um pedaço de sua própria carne para testar a mulher, fazendo-a comer. Sem sutileza, pois o diretor faz questão de focar por segundos o sangue que escorre de sua perna. A polêmica cena de estupro incestuoso, que causou revolta nos cinemas, não se mostra eficiente, pois envolve dois personagens unidimensionais, mais vazios que um "Hulk". Poderiam ser efeitos em computação gráfica, que não faria diferença alguma.

Gang-Do (Lee Jung-jin) estampa sempre em seu rosto uma frieza desumana, elemento que complementa suas ações de forma óbvia. Ele abate os animais, deixando suas vísceras molharem o chão, tornando-o escorregadio, antes de consumi-los. Qual a razão? Além de ser uma pessoa muito pouco higiênica, deve-se deixar bastante evidente sua natureza animalesca. Ele é mau, muito mau. E a enigmática mulher? Ela é "enigmática", então nada melhor que colocá-la entoando uma bizarra canção de ninar, mesmo que em detrimento de qualquer racionalidade ou propósito, pois ela afirma momentos depois que mal teve tempo de vê-lo quando bebê, então como saberia sua canção favorita?

"Pietá" é visualmente interessante, venceu o "Leão de Ouro" em Veneza, mas seu realizador não é corajoso como Lars Von Trier ou Gaspar Noé. Um cineasta provocador? Analisando essa obra e as anteriores, acho que está mais para um filho mimado querendo chamar a atenção de pais pouco atenciosos. Ele atravessa pela casa quebrando vasos, com um sorriso no canto da boca, como se aguardasse ansioso pela atenção que receberá ao ser repreendido.

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