quarta-feira, 17 de setembro de 2014

"Além da Escuridão - Star Trek", de J.J. Abrams


Além da Escuridão - Star Trek (Star Trek Into Darkness - 2013)
O diretor J.J. Abrams dá uma aula de como revitalizar uma franquia, sem necessariamente desrespeitar seu legado e o trabalho árduo dos profissionais que a construíram. Com inteligência, os roteiristas Alex Kurtzman, Roberto Orci e Damon Lindelof, abraçam o cânone estabelecido na Série Clássica, inclusive inserindo elementos para os fãs mais atentos, como o medo que Chekov sente ao pensar que usará o uniforme vermelho, além de citações a personagens, como Harry Mudd e a presença dos inesquecíveis Tribbles, assim como o compositor Michael Giacchino, que faz uma breve referência em uma cena a uma melodia marcante do episódio "Amok Time", o primeiro da segunda temporada. 

O que mais me surpreendeu foi o competente equilíbrio, tão raramente alcançado, entre a necessidade de se atingir o público jovem que busca prioritariamente a ação e os fãs que buscam identificar no roteiro o necessário respeito com o objeto de sua devoção. É, ao mesmo tempo, um reboot e uma continuação das três temporadas da Série Clássica e dos seis projetos para o cinema, com William Shatner e Leonard Nimoy. Fico esperançoso com o futuro de "Star Wars", nas mãos de Abrams. Benedict Cumberbatch (John Harrison) consegue impor sua presença de forma ameaçadora e segura, criando o antagonismo perfeito para o heroísmo inconsequente e, ainda, essencialmente inseguro do jovem Capitão Kirk, vivido por Chris Pine, confortável como um ponto de transição entre o moleque brigão do primeiro filme e a rebelde elegância do personagem eternizado por Shatner.

Spock (Zachary Quinto) recebe maior destaque, inclusive como alívio cômico, com sua relação com Uhura (Zoe Saldana), garantindo momentos engraçados e que remetem ao espírito de camaradagem do trio Spock-Kirk-McCoy, algo que soava pouco orgânico no filme anterior. Existem alguns problemas na costura do roteiro, minimizando o efeito de algumas soluções narrativas ou tirando delas a credibilidade, mas furos existem em praticamente todos os projetos. O que importa é que, durante a experiência, esses furos não sejam perceptíveis, como um mágico que nos ilude com a mão direita, enquanto opera o truque com a esquerda. E Abrams é um excelente ilusionista.

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