quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Ciclo de Clássicos das Artes Marciais - "The Loot" e "Carrascos de Shaolin"


The Loot (Zei Zang – 1980)
Produção independente altamente criativa que fez com que a indústria voltasse os olhos na direção de seu diretor, Eric Tsang, que recebeu elogios calorosos de vários artistas marciais da época, como Jackie Chan, que o convidou para dirigir com ele "Armadura de Deus", lançado em 1986. Só pelo fato da trama não envolver um caso de vingança, já merecia menção honrosa, mas a estrutura adotada de romance policial estilo Agatha Christie, aliada ao senso cômico apurado que segue eficiente, garantem entretenimento de muita qualidade, até para quem não aprecia o gênero. Eu considero que este é o melhor momento de David Chiang como ator, vivendo um lutador/investigador caçador de recompensas que entra em disputa com outro mercenário (Norman Chu) por um objetivo comum: encontrar o enigmático ladrão de joias e assassino conhecido como "Aranha". É interessante salientar que o roteiro fica ainda mais interessante em revisões, a revelação do mistério não enfraquece a experiência. Os últimos 20 minutos são, sem exagero, brilhantes, aula embasbacante de técnica e timing, com o confronto entre Chiang, Chu e Phillip Ko, com o primeiro utilizando a estratégia do punho de macaco, inserindo um toque hilário, a tremedeira de pavor. E, na conclusão, um deboche corajoso com um clichê visual dramático utilizado nas produções dos estúdios Shaw Brothers. Excelente!


Carrascos de Shaolin (Hung Hsi Kuan – 1977)
É comum hoje a indústria de cinema se aproveitar de forma nada orgânica do discurso feminista para lucrar alto, mas houve época em que voos mais ousados eram dados no tema, com espontaneidade e humor. Esta produção dos estúdios Shaw Brothers, dirigida pelo competente Chia-Liang Liu, de "A Câmara 36 de Shaolin", traz o requinte usual, coreografias espetaculares e majestosos cenários, porém, o que fica após a sessão é a sua mensagem. A trama se passa durante a dinastia Qing, em que os Manchus liderados pelo lendário traidor guerreiro taoísta eunuco Pai Mei (Lo Lieh), invadem e destroem o Templo de Shaolin. Durante o ataque, o mestre de cabelos brancos derrota e mata o líder dos monges, participação breve e marcante de Gordon Liu, mas o seu principal discípulo, vivido por Kuan Tai Chen, consegue escapar juntamente com poucos colegas. Após a fuga, eles se juntam ao movimento anti-Qing como membros de uma companhia de ópera itinerante. Durante uma de suas viagens, ele conhece a jovem Fang Yung-chun (Lily Li), especialista no estilo da garça, com quem se casa e tem um filho, passando a treinar intensivamente o estilo da garra de tigre para conseguir finalmente vingar o seu mestre. O interessante é que os dois nutrem preconceito pelas técnicas do outro, a divisão (assim como a metáfora) é clara entre o que deve ser utilizado por homens e por mulheres. Só que o menino cresce guiado pela mãe a se vestir como uma garota, sendo treinado por ela no estilo da garça. Sem revelar muito sobre o terceiro ato, a história comprova que a negação do feminino ou do masculino no indivíduo conduz à derrota, a resposta aparece somente quando o guerreiro combina as duas potencialidades, desestabilizando o aparentemente indestrutível Pai Mei. 

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