domingo, 20 de novembro de 2016

Sobre a crítica cinematográfica e sua relação com os leitores


– O texto crítico não precisa necessariamente contar a sinopse do filme, análises profundas podem ser feitas a partir de apenas uma cena, como base argumentativa para abordar variados aspectos técnicos. A trama em detalhes será conhecida pelo espectador ao ver o filme, faz parte da experiência.

– É louvável o interesse em ler análises críticas de filmes que ainda não foram vistos, até mesmo daqueles que a pessoa não se interessaria inicialmente em conhecer. O instinto do garimpo intelectual é elemento fundamental no dedicado apreciador de cinema.

– As listas preparadas por um crítico são formadas com base no critério utilizado pelo profissional. Quando o leitor comenta de forma depreciativa sobre a ausência de qualquer outra produção, não apenas está afirmando desconhecer a função da crítica, como também está desrespeitando inconscientemente o crítico.

– Textos grandes ou textos curtos? Existem análises longas que dizem pouco, existem análises curtas que dizem muito. É preferível aparar arestas a ser repetitivo.

– Quando o crítico brasileiro se torna um adulador de um cineasta nacional ainda ativo, por mais vantajoso que isso possa parecer ser a princípio, soa forçado e destrói o conceito da imparcialidade crítica. O respeito sóbrio e sincero é sempre o melhor caminho nessa relação. É preferível ser um escritor discreto, ao invés de um “Amaury Jr.” arroz de festa.

– Seja responsável e coerente, o profissionalismo não se mede pela respeitabilidade do veículo em que você trabalha, mas pela seriedade com que você o realiza. Seja grande em um blog pequeno, a qualidade de seu trabalho será reconhecida por aqueles que se dedicam com a mesma seriedade.

– Não peça colaboração financeira de seus leitores por textos diários, escreva um livro, prepare um curso/oficina, comercialize um produto, mas não se vitimize publicamente para induzir os leitores a se tornarem “patrões”. O crítico profissional não deve ser remunerado por seus leitores, eles já te presenteiam com o elemento mais precioso, a atenção com o texto e a indicação de seu trabalho para amigos e familiares. A situação está muito complicada para todos que tentam propagar cultura no país, mas eu prefiro morrer de fome a pedir que meus leitores paguem pelo meu trabalho.

– Não “curta” no Facebook apenas os textos sobre filmes que você gosta, valorize o esforço do profissional que você respeita. O crítico passa horas trabalhando cada frase de sua análise, muitas das vezes sem remuneração alguma, pensando apenas em entregar um material de qualidade pros leitores. O carinho do leitor é um tremendo estímulo diário.

– A pior coisa que se pode pedir a um escritor é que ele substitua a arte da preparação de um texto por uma gravação em vídeo. Qualquer um pode se colocar diante de uma câmera e ficar se repetindo sobre como o filme x o emocionou, mas não há pirotecnia visual da melhor edição que emocione mais do que a leitura de uma frase bem trabalhada.

– Busque a fidelidade consciente de jovens adultos de 8 a 80 anos, não a adulação de infantilizados pré-adolescentes fascinados por sua participação em “tretas”. Seja mais lúcido, inclusive ao tratar de eventuais temas mais polêmicos. O crítico arrogante pode arregimentar um exército, mas está fadado ao descrédito. 

– Caso esteja começando na área, não se intimide com o número de seguidores de um crítico popular, pense que os youtubers teens conquistam multidões, milhões de inscritos, mas são intelectualmente equivalentes a uma ervilha. Não tente ser um “crítico amoeba” (risos), não siga tendências para agradar outrem, faça seu trabalho com seriedade.

– Finalizando, uma dica para leitores e aqueles que pretendem começar na crítica: respire cinema, novo e antigo, de todos os gêneros, da hora em que acorda até a hora de dormir.

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