quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Sobre as polêmicas ocupações de alunos em escolas públicas

Eu sempre fui um ferrado, nunca tive mesada na infância / adolescência, nunca viajei pra fora do país, nunca liguei para o status do consumismo (com exceção de livros e filmes, as duas paixões da minha vida), nunca tive aparelho de ar-condicionado no quarto, os gatos de estimação que tenho são resgatados da rua, eu deixava de comer lanche no recreio da escola pra adquirir revistas em quadrinhos na banca de jornal (que naquela época custavam muito barato), então creio que não me encaixo em qualquer conceito "elitista". Aprendi inglês sozinho, por osmose, com ajuda de muitos filmes em VHS legendados, e, já na adolescência, buscando a gramática em livros que pegava na biblioteca pública. Na juventude eu dei aulas particulares de inglês, munido de um cartão simplório artesanal de cartolina, demorou alguns meses, mas o boca a boca dos alunos funcionou e cheguei a dar aulas em comunidades carentes. O objetivo era exatamente poder ter alguma verba para adquirir ainda mais conhecimento. Hoje, devido à minha opção profissional, propagar cultura nessa nação, eu continuo sendo um ferrado, mas a esperança nunca morre.

Sempre fui um rato de sebos e bibliotecas, lugares onde os livros são gratuitos ou vendidos a preços irrisórios. Eu sempre tive um interesse quase arqueológico em aprender sobre os assuntos que me interessavam. Em uma época sem internet, tudo era muito mais difícil. Hoje em dia qualquer livro pode ser baixado em segundos, de graça em PDF, mas a juventude de hoje parece que perdeu totalmente o interesse pelo garimpo intelectual. A educação acadêmica não representa sequer 20% do que forjou esse escritor que, em alguns dias, completará 33 anos de idade. Nunca tive aulas de filosofia na escola, nunca fiz faculdade de cinema, nem de psicologia, mas sou apaixonado por todos esses temas, estudei todos eles na solidão do meu quarto, sou crítico de cinema/cineasta, e, posso garantir, eu já li mais livros de psicologia (muitos deles, cópias que conseguia nas faculdades fazendo amizade com os reitores) do que muitos estudantes da área. Na época em que fiz faculdade, a maior parte da turma estava mais interessada era na cerveja após as aulas.

Sei que estou me alongando, mas o tema é muito importante, para evitar simplificações equivocadas, extremistas. Eu considero um teatro absurdo e irresponsável essas ocupações de estudantes nas escolas. Eles, com falas e palavras de ordem fragilmente memorizadas, clichês desgastados, estão defendendo uma causa que sequer compreendem profundamente, sendo utilizados como massa de manobra por movimentos sindicais, com interesses políticos. Abra as portas de uma biblioteca pública maravilhosa na frente dessas escolas ocupadas, que essa garotada vai correr como o diabo foge da cruz. O sistema educacional brasileiro é terrível, enferrujado e muito pouco intuitivo, mas não é com esse teatro dos horrores, onde mães e pais são proibidos de entrar e já houve até um caso de falecimento, que a educação nacional irá melhorar por mágica, com o Brasil se tornando uma Suíça da noite para o dia.

Como eu sempre afirmo, a LUCIDEZ é a única salvação para o nosso povo. O indivíduo lúcido não se escraviza em visões extremistas, não vira massa de manobra, ele encontra divergências e convergências em tópicos defendidos pela "esquerda" e pela "direita", ele marcha no ritmo de seu próprio tambor ideológico, respondendo apenas aos seus princípios.

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