sábado, 2 de abril de 2016

TOP - Os Filmes de James Bond


10 - 007 – O Amanhã Nunca Morre (Tomorrow Never Dies, 1997)
Muitos elementos deste filme remetem ao sucesso: “O Espião que me Amava”, talvez o mais forte destes refira-se a Bond Girl chinesa Wai Lin (Michelle Yeoh), sucessora de uma rara exceção na franquia, até aquele momento, a agente soviética interpretada por Barbara Bach no filme de 1977. A chinesa prova não precisar ser salva pelo espião, demonstrando sua perícia em cenas muito bem orquestradas. A veterana atriz Judi Dench retorna como a superiora de 007 e seus diálogos com o agente são um ponto alto do filme. Um exemplo é quando responde secamente ao almirante Roebuck (Geoffrey Palmer), após o mesmo duvidar de sua capacidade e firmeza no cargo: “pelo menos não corro o risco de pensar com a cabeça errada”. A cena de ação mais lembrada é a espetacular fuga do herói em seu BMW 750, dentro de uma claustrofóbica garagem. A invenção de Q (Desmond Llewelyn) é conduzida manualmente por um pequeno telefone celular, o que fará com que o agente possa manobrar o automóvel deitado no banco de trás. Um verdadeiro show de destruição, muito bem realizado pela equipe técnica. O compositor John Barry em uma conversa com Barbara Broccoli indicou um jovem talento que, em sua opinião, poderia elaborar uma trilha sonora à altura do agente secreto mais famoso do cinema. O escolhido foi David Arnold que misturou a techno music com a clássica sinfonia de Barry, criando uma trilha moderna, com personalidade e estilo. Pierce Brosnan supera seu trabalho no filme anterior, demonstrando muito mais confiança e serenidade. A recepção dos críticos foi boa, muitos elogios focaram-se na trama, abordando os malefícios da imprensa, quando utilizada em mãos erradas. Um problema ainda atual e bastante verdadeiro. O décimo oitavo filme da série é largamente apoiado na ação e pirotecnia, o que afasta um pouco o tom de espionagem inerente ao personagem criado por Fleming.


9 - 007 – Somente Para Seus Olhos (For Your Eyes Only, 1981)
O filme anterior havia ajudado a transformar o agente secreto em um super-herói espacial. Mesmo tendo sido um sucesso de público, o produtor Albert Broccoli sentiu que precisava retornar às raízes, encontrar-se novamente com o personagem idealizado por Ian Fleming. O primeiro passo dado foi a importante escolha de quem iria comandar o novo filme, quem seria o responsável por dar o novo tom a ser utilizado nos próximos projetos. Acertadamente decidiram-se por John Glen, um experiente editor de filmes de ação, que havia dirigido magistralmente a sequência da perseguição de trenós do filme de 1969: “A Serviço Secreto de sua Majestade”. O diretor foi o responsável por incutir na série um tom mais ameaçador, com cenas de ação de tirar o fôlego. O roteiro criado por Richard Maibaum seria uma colcha de retalhos, incluindo trechos da antologia de contos original: “For Your Eyes Only”, “Risico” e de “Live and Let Die”. Roger Moore já com cinquenta e três anos de idade, sentia-se um pouco constrangido por conquistar somente com o olhar e poucas insinuações, mulheres trinta anos mais novas. A solução encontrada pelos roteiristas foi trazer soluções cômicas para algumas cenas. Méritos para o diretor John Glen, que conseguiu trazer um pouco mais de seriedade à versão do agente interpretado por Moore, fazendo-o tomar parte em cenas brutais, como a do carro do vilão Locque no desfiladeiro, onde um chute certeiro de 007 foi o suficiente para que o automóvel caísse penhasco abaixo. Moore não queria gravar a cena, pois ia contra sua abordagem, porém Glen o confrontou e o persuadiu, garantindo com sua coragem e competência o comando das próximas quatro produções da franquia.


8 - 007 Contra o Satânico Dr. No (Dr. No, 1962)
A dupla de produtores Albert R. Broccoli e Harry Saltzman captaram a essência das obras de Ian Fleming e inseriram toques geniais, como o “cano da arma” no início de cada filme, a sequência inicial tensa que leva a um final em suspense, seguido por um magistral título colorido e povoado de belas silhuetas femininas, conceito criado por Maurice Binder. Outros toques importantes são a bebida favorita do agente, sua Vodka-Martini “shaked but not stirred” e acima de tudo sua famosa apresentação: “Bond... James Bond”. Elementos que, de forma espontânea, entraram no imaginário coletivo do público, tornando-se referências pop até hoje repetidas por pessoas de todas as idades. Para o protagonista, muito a contragosto dos executivos da United Artists, contrataram um jovem escocês motorista de caminhão chamado Thomas Sean Connery. Ele exalava certa arrogância que combinava perfeitamente com o personagem. Acredito sinceramente que sem a contribuição deste ator, não haveria uma franquia tão lucrativa até hoje. Seu sarcasmo em cena, o charme que ele imprimiu no personagem foi tão marcante que mesmo após várias encarnações, muitos ainda o consideram o melhor intérprete do agente secreto. Para viver Honey Ryder, jovem ingênua e valente que cruza o caminho do agente, foi chamada uma suíça filha de diplomata e que procurava sua grande chance, após participar de filmes pequenos e inexpressivos. Ursula Andress entrou para a história ao sair do mar em um ousado, para a época, biquíni branco, munida de um cinturão de couro onde carregava uma faca de caça. Estava iniciada a era das Bond Girls, que com o passar dos anos tornou-se um posto cada vez mais desejado por jovens atrizes. Para o papel do vilão Dr. No, convocaram Joseph Wiseman, que foi bastante elogiado pela excentricidade e ar exótico que incutiu ao personagem, uma moldura para todos os futuros vilões da franquia.


7 - 007 - Operação Skyfall (Skyfall, 2012) 
A direção de Sam Mendes é elegante e inteligentemente autoral, mas sem nunca esquecer que precisa entregar o que os jovens fãs buscam, mas também abraçar aqueles que assistiram Sean Connery no cinema. Ele conduz os acontecimentos com o herói, potencializando o medo em suas variadas formas: medo de ser substituído, medo de ser superado, medo da solidão. Como consequência, humaniza-o sem descaracterizá-lo. O vilão Raoul Silva, vivido brilhantemente por Javier Bardem, busca vingança contra M, ela o abandonou quando era um agente do MI6, mas, na realidade, sofre mais pelo ciúme do carinho que ela nutre por Bond. Ao fazê-lo claramente homossexual, ainda que, felizmente, fugindo da estereotipação, o roteiro entrega diálogos inesperados e engraçados, como quando ele tenta seduzir o herói, que está amarrado em uma cadeira. Ralph Fiennes (Gareth Mallory, o M que nos acostumamos a ver sendo interpretado por Bernard Lee, só que numa versão mais jovem), Naomie Harris (uma Eve Moneypenny muito mais interessante, tendo estabelecido uma real química com o herói, algo que torna o usual jogo de sedução entre os dois, muito mais verossímil) e Ben Whishaw (um Q adolescente, possibilitando um relacionamento de irmão mais novo com 007) completam a gênese da criação de Fleming, preenchendo lacunas que até os fãs mais esperançosos não acreditavam que seriam preenchidas. Daniel Craig está totalmente confortável no personagem, que desta vez enfrenta a si mesmo, física e mentalmente. Levado a buscar em seu passado, que sempre buscou esquecer, a força que necessita para continuar realizando seu trabalho, mesmo que o governo de seu país o considere uma relíquia dispensável em um mundo onde um jovem de pijamas em seu laptop pode ser mais eficiente que ele. Skyfall é a propriedade de sua família na Escócia, local rústico cheio de passagens secretas. Em uma delas reside a essência inocente daquela criança de outrora, elemento captado com sensibilidade nos créditos de abertura, mostrando o olhar do personagem escondido atrás dos escombros, como que se escondendo. Simbolicamente representa o único elo entre o garoto medroso que ele um dia foi e o homem audacioso que precisa ser. 


6 - 007 – O Espião Que Me Amava (The Spy Who Loved Me, 1977)
Pela primeira vez na franquia, James Bond iria ser acompanhado de uma Bond Girl tão inteligente quanto ele, um reflexo do crescente movimento feminista pelo mundo. A agente secreta da KGB Anya Amasova, também conhecida como Triplo-X, foi interpretada pela bela atriz nova-iorquina Barbara Bach, que foi escolhida por Broccoli ao fazer um teste, totalmente desnuda, para um filme italiano. Ela sabe que o espião foi o responsável pela morte de seu namorado, um sósia de George Lazenby, demonstrando a revanche moral dos produtores, jurando assim vingar-se de 007 ao final da missão. O duelo psicológico pleno em sedução entre os dois agentes mostra-se uma bem-vinda novidade no caminho da série.  O filme inovou também com uma ótima gadget, a Wet Bike, um projeto do que viria a ser o atual Jet Ski. Como se já não fosse suficiente, o filme contém uma cena histórica e eterna no cânone: o mergulho submarino do carro Lótus Esprit. Após uma perseguição dramática envolvendo motocicletas e helicópteros, o espião leva seu automóvel para o fundo do mar, surpreendendo seus inimigos ao se transformar em um submarino. O forte impacto que esta cena teve na época, elevou ainda mais o padrão de excelência para os próximos projetos, que acabariam tornando-se durante um breve período um show onde se priorizava o espetáculo, acrobacias cada vez mais ousadas, mesmo que visualmente pouco eficientes, deixando o roteiro um pouco de lado. Celebrando o décimo filme da lucrativa franquia, determinou-se que havia chegado a hora de uma canção que falasse, não dos vilões ou da trama, mas sim do próprio protagonista. Marvin Hamlish, compositor deste projeto, criou então a canção “Nobody Does it Better” (Ninguém Faz Melhor), interpretada com emoção por Carly Simon.


5 - 007 – Permissão Para Matar (Licence to Kill, 1989)
Utilizando uma cruel sequência inserida no segundo livro de Ian Fleming: “Live and Let Die”, os produtores decidiram criar para este filme, o último dirigido por John Glen, uma razão consistente para que o agente ousasse se rebelar contra seus superiores e planejasse cuidadosamente um ato de vingança. O traficante de drogas latino Franz Sanchez, interpretado magistralmente por Robert Davi, sequestra Felix Leiter (David Hedison), o velho amigo de James Bond, logo após seu casamento. Sanchez assassina friamente a esposa e, com extremo sadismo, assiste enquanto o homem tem suas pernas destroçadas lentamente por tubarões. Obviamente o agente irá partir em uma missão de vingança, onde utilizará sua inteligência para infiltrar-se na gangue do vilão e, ganhando sua confiança, destruí-lo moralmente e fisicamente. Impossível imaginar Roger Moore ou até mesmo Sean Connery, capitaneando obra tão crua, muito se disse na imprensa inglesa da época, sobre a ausência do estilo tradicional da franquia, parecendo mais com os filmes de ação que eram realizados pelos americanos. A importância de Timothy Dalton na franquia é, por algumas pessoas e sem razão, subestimada. Acredito que quanto mais estabelecida for uma franquia, mais interessantes são os desvios realizados, as obras em que os roteiros ousam novos caminhos, muitas vezes subvertendo suas próprias verdades, desafiando a fidelidade ao cânone.


4 - 007 - Cassino Royale (Casino Royale, 2006)
Daniel Craig aparenta ser um lutador de MMA em comparação com Sean Connery, porém a mudança é entendida se percebermos a real intenção dos produtores e de Martin Campbell: mostrar a transformação de uma pedra bruta em diamante, cortando as arestas sem piedade. O jovem agente sequer dá importância a qual bebida tomar, contanto que mate sua sede. Por pura imaturidade, cometerá o erro primário de se apaixonar. Este evento e suas consequências irão moldar indelevelmente o caráter do espião, levando-o a dar o primeiro passo rumo ao personagem estabelecido nos filmes da década de sessenta. A ausência de elementos fundamentais da franquia, como o personagem Q e a secretária Moneypenny, irritaram muito os fãs mais devotos. Faz-se preciso entender que esta fase representa mais um degrau na evolução do personagem. Como ficaria provado anos depois, não seria um definitivo adeus aos elementos clássicos, mas sim um promissor “até breve”. Os produtores decidiram dar um passo atrás, como que um respiro final antes do salto, algo que ocorre com frequência nesta produção, graças à excelente utilização do Parkour, que inclusive funciona também no nível narrativo, pois diz muito sobre a intempestividade desse 007 1.0, que atravessa paredes ao invés de abrir portas. Com essa decisão, não só conseguiram trazer novos fãs à franquia, como também abriram um leque de oportunidades nunca antes abordadas.


3 - 007 Contra Goldfinger (Goldfinger, 1964)
Tudo começou quando os empreendedores produtores Albert Broccoli e Harry Saltzman contrataram o diretor Guy Hamilton para substituir Terence Young, que estava indisponível na época. O novo diretor idealizou uma sequência inicial fora do contexto do filme, algo que não era usual na indústria, com o estilo das matinês de aventura nos cinemas, abraçando a literatura pulp. A cena em que o espião sai da água com seu equipamento de mergulho e revela por baixo dele um sofisticado e impecável smoking de paletó branco com um cravo na lapela, tornou-se a personificação exata do personagem. A ideia de Hamilton tornou-se uma tendência muito explorada, de forma cada vez mais inventiva, nos sucessivos filmes da franquia. Outro símbolo de 007 que faz sua estreia neste projeto é o seu automóvel Aston Martin DB5, munido com um assento ejetável, um localizador, muitos anos antes do GPS ser criado, escondido na mala, cortinas de óleo e fumaça, metralhadoras sob os faróis e placas rotativas. Terence Young havia sido o responsável pela elegância e charme do protagonista, que recebia sugestões nos sets de filmagem, mas os aspectos mais fantasiosos e criativos foram idealizados por Guy Hamilton. 


2 - 007 – A Serviço Secreto de Sua Majestade (On Her Majesty´s Secret Service, 1969)
Independente dos problemas que causou e de sua equivocada atitude, eu ainda considero a atuação de George Lazenby coerente com o que o roteiro pedia. Ele interpretou um herói diferente do vivido por Connery, um homem sensível, que chora o trágico assassinato da mulher amada na cena mais impactante do filme. Suas cenas de batalha corporal ainda estão entre as melhores da série, podendo ser comparadas às demonstradas por Daniel Craig nos filmes mais recentes. O ponto forte do filme foi a magistralmente editada perseguição na neve, com a equipe de esquiadores profissionais liderados por Willy Bogner, realizando feitos esteticamente belos e que se tornaram um símbolo da franquia. É um filme formidável, desde sua sequência inicial musicada por John Barry, que espertamente remete aos filmes anteriores, passando pela bela montagem romântica ao som de “We Have All the Time in The World”, última canção gravada por Louis Armstrong, até seu desfecho surpreendentemente triste. Peter Hunt em sua única participação na cadeira de diretor realiza uma obra pungente e apaixonada, que merece obter um melhor lugar no coração dos fãs da série, até por sua fidelidade ao livro original.


1 - Moscou Contra 007 (From Russia With Love, 1963)
Neste segundo filme, a gênese do personagem torna-se completa com a inclusão do personagem Q, vivido em dezesseis filmes por Desmond Llewelyn, um armeiro da organização MI6 que oferece ao nosso herói as últimas novidades do ramo tecnológico, as famosas gadgets que sempre o salvam no último segundo. Ao longo da série estes equipamentos acabaram influenciando o mundo real, como a máquina de café expresso em “Viva e Deixe Morrer”, os telefones nos carros, os pagers e o jet ski, criado para “O Espião que me Amava”, tornando-se um grande equívoco analisá-los sem contextualizá-los em seu tempo. Outros elementos iniciados nesta obra, que iriam ser abraçados pelo inconsciente coletivo dos cinéfilos: as cenas pré-créditos iniciais, sempre estabelecendo um momento de tensão, muitas vezes um cliffhanger e a canção-tema, no anterior havia sido utilizada uma canção genérica: “Kingston Calypso”, sem relação com a trama, que desta feita foi interpretada de forma refinada por Matt Munro. Dentre as empolgantes sequências de ação, destaco a caótica batalha no campo cigano ao som da excelente trilha “007”, composta por John Barry, a perseguição ao agente perpetrada por um helicóptero, baseada livremente na cena clássica de “Intriga Internacional”, de Hitchcock, e o sensacional embate final entre o herói e o calculista Grant, que consegue emular com perfeição o senso de perigo e suspense construído no livro. 

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