terça-feira, 25 de agosto de 2015

"Gemma Bovery - A Vida Imita a Arte", de Anne Fontaine


Gemma Bovery - A Vida Imita a Arte (Gemma Bovery - 2014)
O sentimento de insatisfação existencial da Bovary de Flaubert percorre a trama dessa curiosa, ainda que irregular, homenagem, comandada por Anne Fontaine. O elegante padeiro francês, vivido por Fabrice Luchini, estabelece a analogia, enxergando na jovem turista inglesa, uma atuação impecável de Gemma Arterton, uma visão idealizada de sua heroína literária, o elemento sensual que irá perturbar seu conforto matrimonial. 

A abordagem indiferente, na frente e por trás das câmeras, no entanto, não consegue sustentar a mão pesada do texto, que minimiza o potencial de encantamento ao forçar, até mesmo nas situações mais triviais, um verniz de austeridade pretensamente intelectual. É eficiente a maneira como o roteiro desenvolve a identificação do personagem masculino com a imagem projetada de suas frustrações românticas, porém, a ironia dominante na graphic novel de Posy Simmonds não é transposta com fluidez, resultando, na maior parte do tempo, em tentativas ingênuas de metalinguagem, nascidas de um excesso de coincidências tolas, ambientadas em um belo cenário. Essa aparente preguiça narrativa é coerente com muitas das soluções propostas, uma visão sexista antiquada, que caberia perfeitamente dentre as comédias misóginas da década de sessenta. 

A protagonista, com sua inocência provocante, parece saída do erotismo nostálgico dos filmes de Bigas Luna, uma musa objetificada, o que contrasta com a visão profundamente humana da anti-heroína de Flaubert. 

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