terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Rebobinando o VHS - "Olhos de Tigre" / "O Fantasma da Ópera"


Hoje promovi o meu reencontro com a distribuidora que acredito representar o símbolo máximo daquela época: América Vídeo, com seus “filmes que explodem como dinamite”. Quem não ficava louco de vontade de conhecer a bucólica “Pousada do Sandi”, em Paraty, que era divulgada em todas as fitas? Como esquecer essa vinheta de abertura, ao som de “Winner Takes It All”, cantada por Sammy Hagar, com narração do saudoso Jorgeh Ramos, que nos colocava no clima certo, na expectativa para duas horas de puro escapismo?


Alguns anos atrás, eu tive a honra de ser convidado para escrever o texto de abertura do Prêmio da Dublagem Carioca, que foi narrado pelo Jorgeh. Fiz questão de contar pra ele que eu ficava imitando a sua voz, o texto memorizado, enquanto aguardava o início dos filmes dessa distribuidora. É surreal como a vida dá voltas, nunca ia imaginar que ele um dia narraria um texto meu.


Olhos de Tigre (Parole de Flic – 1985)
O Fantasma da Ópera (The Phantom of the Opera – 1925)
Após uma limpeza no cabeçote do aparelho, acabei me surpreendendo com uma fita cuja trama eu não me recordava. É muito legal ver o eterno Le Samouraï e Rocco Parondi sendo transformado em um misto de Charles Bronson e Stallone, um policial aposentado que faz justiça com as próprias mãos, após sua filha ser assassinada por uma gangue de vigilantes urbanos. Ele briga descamisado numa praia, com direito até a uma montagem de treinamento, desferindo socos na direção da câmera, numa trama que ele mesmo escreveu, defendendo até a canção que toca nos créditos finais. O seu comprometimento fica latente ao percebermos que ele realiza suas próprias cenas de ação mais difíceis, e são várias, com a câmera preocupada em assegurar o público de que não se trata de um dublê. Ele entra no mercadinho de um dos assassinos, tem todo o trabalho de encontrar duas nozes, só pra apavorar o marginal na hora de pagar a conta, esmagando-as logo após afirmar calmamente que aquelas eram as bolas do sujeito. E, demonstrando vocação para quiromante, ele pede para o homem mostrar sua linha da vida, poucos segundos antes de meter uma bala na palma da mão que se estendia no ar. Esse tipo de elemento típico da fórmula americana de trabalhar tramas de vingança, conduzido com mão segura pelo diretor francês José Pinheiro, mostra como se pode manter uma qualidade autoral abraçando o estilo de outra cultura. Um ótimo filme de ação, infelizmente nunca lançado por aqui em DVD ou Blu-ray.

Já “O Fantasma da Ópera” foi incluído apenas pela situação exótica que envolveu meu primeiro contato com ele. Assim que coloquei a fita pra rodar no aparelho, voltaram em minha mente as lembranças de um dia atípico nas férias de final de ano, no final da década de noventa. Eu carregava para todo lado o Guia de Vídeo – Terror, lançado nas bancas de jornal pela Editora Escala. Eu memorizava as sinopses e corria desesperado atrás daqueles filmes que ainda não tinha encontrado nas locadoras de vídeo. Esse era um dos que eu tinha mais interesse, já que sempre fui fã do livro original de Gaston Leroux e um apaixonado pelo cinema mudo. Eu pegava a Lista Amarela e saía ligando para todas as locadoras da cidade, perguntando se tinham a fita, sem sucesso. Nas férias, fui passar umas semanas na casa do meu avô na região serrana de Teresópolis. Chegando lá, fiquei feliz, já que tinham aberto uma locadora exatamente na esquina da casa. Melhor, impossível! Na primeira visita que fiz ao lado do meu pai, meus olhos não podiam acreditar no que estavam vendo. Lá estava, em posição de destaque, o clássico protagonizado por Lon Chaney, lançado pela distribuidora Continental. Após toda a burocracia para me tornar sócio, deixei meu pai furioso, afinal, eu precisava copiar aquela fita para colocar na minha coleção. Na casa não havia dois aparelhos, então, por incrível que pareça, fiz meu pai descer a serra comigo, de volta para nosso apartamento, para que eu pudesse realizar a operação. E, nunca me esqueço da frustração, o VHS simplesmente não rodava. Era como se não houvesse nada gravado na fita. Daquele dia em diante, tomei raiva da Continental, que, ainda hoje, continua realizando o mesmo trabalho de baixa qualidade no formato DVD. 

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