quarta-feira, 15 de outubro de 2014

"Kick-Ass 2", de Jeff Wadlow


Kick-Ass 2 (2013)
Jim Carrey se recusou publicamente a participar da campanha de divulgação, dizendo que sente vergonha de ter participado de algo tão violento. Grande parte dos profissionais da crítica mundial abraçou essa indignação e está utilizando o mesmo critério. Acho hipocrisia o argumento de quem cita a violência real de adolescentes nas chacinas em escolas americanas, com o nível de violência no filme. Quer dizer que se um taxista parar nas manchetes de jornais como um serial killer, “Taxi Driver” passará a ser visto de forma negativa pelos críticos? Cinema é escapismo. A proposta não é refletir a realidade, mas sim contar uma fábula cheia de referências pop, excelente a mensagem na camiseta do protagonista: “I hate reboots”, sobre vigilantismo, uma grande brincadeira com vários clichês dos quadrinhos. Tudo nele é estilizado, exagerado e visando as gargalhadas. 

Existem problemas estruturais no filme, mas passam longe do tema ou da forma com que ele é abordado. O principal erro foi dar a responsabilidade da direção nas mãos incapazes de Jeff Wadlow, com poucos e péssimos filmes no currículo, como “Cry Wolf”. Substituindo a rebelde elegância de Matthew Vaughn, ele deixa passar falhas grosseiras de continuidade em cenas simples, como o girar de uma cabeça que se repete de forma amadora ou um perceptível sorriso no contracampo, que no mesmo diálogo e apenas um segundo depois se torna pura seriedade. A opção de seguir fielmente a obra original de Mark Millar também trabalha contra o resultado, já que ela não chega nem perto da ousada criatividade que existia em cada página do primeiro. Existem conceitos promissores e que poderiam ser enriquecidos na adaptação, como o casal de heróis urbanos motivados pelo desaparecimento do filho, mas são tratados como caricaturas. Não há como negar que Chloe Moretz (Mindy) novamente é a responsável pelos melhores momentos, favorecida por seu carisma natural e pelo melhor trabalha do arco narrativo de sua personagem, um clássico conto de amadurecimento e autodescoberta. 

Assim como no original, a brincadeira consiste em imaginarmos personagens exóticos em um cenário real. Como seria se realmente os jovens quisessem se tornar super-heróis ao invés de astros pop? Eles apanhariam bastante, com certeza. Mas o subtexto além da camada de diversão é o mais interessante: uma crítica ao comodismo de uma juventude que se espelha nos exemplos de futilidade e que enaltece ídolos como Charlie Sheen, apenas por serem grosseiros. A inversão de valores que leva uma jovem como Miley Cyrus, acreditar estar sendo rebelde apenas por ficar nua e estirar a língua pras câmeras. Os heróis da equipe “Justice Forever”, uma bela homenagem à “Liga da Justiça” e “Watchmen”, entre outros, sabem que não são reconhecidos em suas rotinas diárias, mas sentem-se bem por fazerem parte de algo nobre. O contraste é feito com as fúteis garotas populares que atravessam o caminho de Mindy. Elas não intencionam nada mais que a aceitação dos seus iguais, mediante a realização de tolos rituais diários que não dizem nada à madura garota que combatia o crime desde criança com seu pai. Ao fazê-la questionar suas escolhas, o roteiro eleva a qualidade do produto, proporcionando algumas conclusões interessantes entre um decepamento e outro. 

“Kick-Ass 2” não busca superar o original, apenas utilizar aquele molde estabelecido para outras interessantes discussões. 

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