sábado, 11 de outubro de 2014

"Capitão América 2" - O Melhor Filme Solo da Marvel



Capitão América 2 - O Soldado Invernal (Captain America: The Winter Soldier - 2014)
O Capitão América dos quadrinhos nasceu apenas como um símbolo de esperança na Segunda Guerra, com um desenvolvimento narrativo tolo e que só encontrou alguma relevância nos dez anos de domínio criativo do escritor Mark Gruenwald, especialmente no arco em que o personagem questionava duramente o próprio governo que defendia, levando-o a refletir sobre a ideologia que o mantinha íntegro perante a óbvia manipulação de seus superiores. E uma das coisas que mais me agradaram em “Capitão América 2: O Soldado Invernal” foi perceber esse tom corajoso no filme, um posicionamento crítico político verossímil e análogo ao que os jornais nos apresentam diariamente, como nas melhores mitologias através dos tempos.

A Marvel entrega, num equilíbrio perfeito dessa vez, o que a DC/Warner está tentando de forma desesperada, mas não consegue: um projeto que respeita fielmente suas origens e seus leitores novos e antigos, com seriedade em intensidade suficiente para ser relevante para todos os públicos, mas sem ser sorumbático. O roteiro de Christopher Markus e Stephen McFeely inteligentemente movimenta as peças desse grande tabuleiro que a produtora está criando, ousando bastante nos plot twists e elaborando uma trama que caberia tranquilamente em uma galeria ao lado das obras literárias de Robert Ludlum. É perceptível que os diretores Anthony e Joe Russo, que haviam dirigido episódios das séries “Community” e “Arrested Development”, estudaram bastante os filmes de Michael Mann, para comporem as ótimas cenas de ação, nunca distribuídas em detrimento do desenvolvimento narrativo, como é usual no subgênero “adaptações de quadrinhos”. Cada uma delas existe com uma função lógica no contexto que o roteiro propõe, normalmente utilizando as emoções dos personagens como elemento motivacional, algo mais raro ainda caso levemos em consideração que o próprio filme anterior era, estruturalmente, um videogame ruim.

Chris Evans (Steve Rogers), sendo um ator mediano, consegue transmitir naturalmente o desconforto de um homem preso em um tempo que não é o dele, defendendo noções éticas ultrapassadas em uma sociedade hipócrita. E o fator mais interessante no personagem, mesmo nos quadrinhos, é esse conflito interno entre a segurança de um militar e seu caráter, que o faz entender que ele vive por regras já há muito tempo modificadas por interesses escusos. Sem me aprofundar na trama, por respeito à experiência do público, descobrimos que nem a S.H.I.E.L.D. estava imune à corrupção, introduzindo espertamente o personagem vivido por Robert Redford (Alexander Pierce). O renomado ator que, em décadas passadas, sempre foi cogitado pelos fãs para interpretar o herói, entrega uma atuação segura, contida. Nada melhor que o protagonista de um dos melhores thrillers de espionagem da década de setenta: “Três Dias do Condor”, estar presente nessa homenagem ao gênero. Anthony Mackie (Sam Wilson) e Scarlett Johansson (Natasha Romanoff) acabam sendo responsáveis pelos vários alívios cômicos, com o primeiro especificamente resultando um tanto quanto caricatural, o ponto mais fraco.

O melhor de tudo é constatar ao final, o que inclui as já costumeiras cenas pós-créditos, um desejo genuíno de saber o que está por vir na sequência. Pela primeira vez nesse universo cinematográfico da Marvel, não serão apenas os fanboys que estarão salivando de ansiedade ao final. Quem diria, o personagem mais fraco dos “Vingadores” protagonizou um projeto melhor que o próprio filme da equipe. 

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