Desde o início do século passado o personagem foi citado na
literatura, por nomes como Samuel Taylor Coleridge, em 1797, e John Polidori em
sua obra: “The Vampyre”, lançada em 1919. Porém foi nas mãos hábeis do irlandês
Bram Stoker que o mito do vampiro se desenvolveu e imortalizou-se. Lançado
em 1897, o seu livro: “Dracula” tornou-se um sucesso imediato em um mundo
sem as facilidades tecnológicas atuais. O personagem foi livremente baseado no
conde Vlad Tepes que nasceu em 1431 e governou o território que, hoje em dia,
corresponde à Romênia. Famoso por sua crueldade para com seus inimigos, ele
obtinha prazer em comer perante suas vítimas empaladas, tendo como trilha
sonora seus gritos desesperados. O autor criou um amálgama de referências
utilizando o verdadeiro conde e o medo que ele incitava na população da época,
incluindo também uma crítica às religiões. Drácula foge do crucifixo e
teme a água benta, por tratarem-se da representação secular de hipócrita servidão.
O vampiro representa a liberdade. Não é de se surpreender que o mito tenha
se tornado tão popular ao longo do tempo, pelo simples fato de questionar as
crenças divinas e se opor a uma vida solitária, pois ele busca um amor que
transcende barreiras de tempo e espaço. Quantos jovens insatisfeitos e rebeldes
não simpatizam com esta ideia? Nas últimas décadas, infelizmente o mito se
perdeu em meio a muitas cópias descaradas, preguiçosas e sem nenhuma
personalidade, até chegar aos recentes fiascos da franquia “Crepúsculo”. Um
retrato triste e desolador dos malefícios da infantilização de um mito do
horror que existe desde 1797.
Como sempre faço ao preparar essas listas, revejo todos os
filmes e tento conhecer novos, buscando positivas surpresas. Algumas vezes, na
revisão, acabo percebendo que o tempo não foi generoso, como ocorreu com “Fome
de Viver”, de Tony Scott. Alguns entrariam na lista, caso ela fosse um pouco maior,
como “Vampyr”, de Dreyer, o sueco “Deixa Ela Entrar”, “Stake Land”, ou o “Nosferatu”
de Herzog. Bobagens divertidas como “Vamp”, “Buffy – A Caça-Vampiros”, “Vampiros,
de John Carpenter”, o blaxploitation “Blacula”, e os filmes da franquia “Blade”,
merecem menção apenas como curiosidade sobre o tema. Vale destacar o conto da
antologia “Black Sabbath”, de Mario Bava, baseado em “The Wurdulak”, com Boris
Karloff, e “Amantes Eternos”, filme recente de Jim Jarmusch. E, como menção
honrosa, pela fidelidade ao livro de Bram Stoker, o filme “Conde Drácula”,
feito para a televisão britânica, em 1977, com Louis Jordan.
Esses são os meus treze filmes favoritos sobre vampiros:
13 – Os Garotos Perdidos (The Lost Boys – 1987)
O tempo foi ingrato com a obra dirigida por Joel Schumacher,
extremamente datada no pior dos sentidos, com um charme que resiste mais pela
nostalgia daqueles que eram adolescentes na época em que passava na “Sessão da
Tarde”. É exatamente esse sentimento que justifica sua inclusão na lista. Merece
crédito pela boa maquiagem e pelo carisma do elenco.
12 – A Dança dos Vampiros (The Fearless Vampire Killers -
1967)
Roman Polanski quase viu sua carreira ser destruída por este
projeto, fracasso de pública e crítica, vale salientar, uma versão severamente
cortada pelos produtores. Polanski vive o medroso e desastrado Alfred,
assistente do professor Abronsius, um especialista em identificar vampiros. A
trama garante um sorriso constante, mas entrega pelo menos dois momentos de
causar gostosas gargalhadas: o pouco confortável lugar que o vampiro bonachão, vivido
por Alfie Bass, e "sem-teto" escolhe para se abrigar durante a noite
e a falta de atenção de Alfred com seu mestre, deixado ao relento e entalado em
uma janela. Gosto bastante de uma cena pequena onde o vampiro judeu, ao
surpreender sua vítima ostentando um crucifixo em sua direção, simplesmente
afirma: "Oh, você pegou o vampiro errado".
11 – Drácula – O Demônio da Noite (Dracula – 1974)
Dirigido por Dan Curtis, esse filme feito para a televisão,
pouco conhecido até entre os fãs do gênero, teve muitas de suas ideias,
inclusive cenas inteiras, copiadas por Francis Ford Coppola em seu famoso
“Drácula, de Bram Stoker”, como o momento altamente simbólico em que o vampiro,
vivido de forma imponente por Jack Palance, faz a jovem Mina beber seu sangue
de um corte no próprio peito. O roteiro de Richard Matheson, de “Em Algum Lugar
do Passado”, foi o primeiro a tratar o personagem com certa simpatia, inserindo
a noção de que ele, um trágico apaixonado, estava buscando sua amada
reencarnada.
10 – Drácula (Dracula – 1931)
Bela Lugosi. Apenas esse nome já bastaria para indicar a
importância dessa obra na história do cinema de horror. O primeiro filme falado
a lidar com um tema sobrenatural, responsável por tornar o “Universal Studios”
uma referência no gênero, superado apenas pela “Hammer”, décadas depois. Como
adaptação, possui falhas, como o fato de minimizar a personagem Lucy (Frances
Dade), que se torna uma figura de decoração, e a equivocada alteração do Dr.
Seward (Herbert Bunston), que se torna o pai da trágica Mina (Helen Chandler).
O roteiro, no entanto, acerta com o personagem Renfield (Dwight Frye), que dá o
pontapé inicial na trama (papel de Jonathan Harker, no original literário)
transformando a esquisita caricatura imaginada por Bram Stoker em alguém tridimensional.
É um teatro filmado, uma obra importante para o gênero, porém com execução
bastante problemática.
9 – A Sombra do Vampiro (Shadow of The Vampire – 2000)
Com uma premissa inteligente, trabalhando a possibilidade do
protagonista do clássico mudo “Nosferatu” ser, na realidade, um vampiro, o
roteiro reimagina o processo de filmagem da obra, misturando realidade e ficção,
colocando em confronto o enigmático Max Schrek de Willem Dafoe, e o obsessivo
diretor Murnau, vivido por John Malkovich. O diretor E. Elias Merhige,
responsável pelo perturbador conto de horror visual, ainda que pouco conhecido,
“Begotten”, de 1990, consegue estabelecer um clima de constante opressão,
favorecido pelo tom sépia e marrom escuro da fotografia de Lou Bogue. É uma
obra verdadeiramente única no gênero.
8 – A Hora do Espanto (Fright Night – 1985)
Visualmente datado como “Os Garotos Perdidos”, porém o tempo
foi mais generoso com sua trama, tão eficiente hoje quanto na época de sua
estreia. A primeira vez que me lembro de ter sentido medo com um filme do
gênero foi aos cinco anos, assistindo na televisão a cena onde Evil Ed (Stephen
Geoffreys) é perseguido pelo vampiro (Chris Sarandon), caindo em um beco sem
saída. Eu provavelmente nem estava entendendo a trama, mas a aparição do
vampiro atrás do garoto me fez pular da cadeira. O diretor Tom Holland
conseguiu realizar uma inteligente homenagem ao gênero, com esperto senso de humor,
modernizando a figura do vampiro com muita personalidade, inserindo ele no
cenário urbano.
7 – Drácula, de Bram Stoker (Bram Stoker’s Dracula – 1992)
Normalmente superestimado em revisões modernas, o que prova
o baixo nível do tema na indústria atual, o filme de Francis Ford Coppola
esbanja pretensão, porém, na mesma medida, exibe total desequilíbrio no ritmo.
É indefensável a apatia de Keanu Reeves, um dos elementos que enfraquecem o
primeiro ato, sem alma, frio, arrastado. O segundo ato, com a inclusão do Van
Helsing vivido por Anthony Hopkins, ganha ânimo e, com exceção do excesso
melodramático na subtrama do romance entre o vampiro (Gary Oldman) e sua amada
(Winona Ryder), melhora consideravelmente, justificando sua posição na lista. Apesar
de sugerir, pelo título, fidelidade ao livro original, o roteiro foge
completamente da trama, num caso clássico de propaganda enganosa. Vale destacar
a fotografia, com o intenso uso da cor vermelha, uma clara homenagem a Mario
Bava.
6 – Entrevista Com o Vampiro (Interview With the Vampire:
The Vampire Chronicles – 1994)
Com direção de Neil Jordan, a adaptação da obra de Anne Rice
ganha ainda mais elegância, sensualidade, refinamento e lirismo. Um nome já
seria suficiente para colocar a obra nessa alta posição na lista: Philippe Rousselot,
um dos melhores diretores de fotografia da indústria, capaz de retratar algo
grandioso, extravagante, com uma pegada realista, verossímil, em um de seus
trabalhos mais bonitos. Vampiros, enquanto almas torturadas, em um clima depressivo,
traduzindo a tristeza da imortalidade solitária.
5 – Um Drink no Inferno (From Dusk Till Dawn – 1996)
Essa pérola descompromissada do diretor Robert Rodriguez,
com roteiro de Quentin Tarantino, só melhora a cada revisão. A estrutura que se
desconstrói no segundo ato, conduzindo o que parecia ser uma obra realista
policial aos píncaros do gore absurdo, engana o espectador, que, desarmado
sensorialmente, não consegue evitar ser tragado, junto com a dupla de
criminosos, vividos por George Clooney e Tarantino, para o doentio cenário do
cabaré demoníaco de beira de estrada. Você inicia o filme odiando os
criminosos, porém, acaba torcendo por eles, quando os verdadeiros monstros
aparecem. É o filme do gênero feito por mentes criativas estudiosas e apaixonadas
pelo horror, com diálogos que nasceram para serem memorizados e repetidos.
4 - A Máscara de Satã (La Maschera del Demonio – 1960)
A estreia do diretor italiano Mario Bava, deixando um pouco
de lado o personagem de Stoker, ele se baseou no conto vampiresco russo: “The
Vij” de Nikolai Gogol. A atriz Barbara Steele e seus enormes e lindos olhos
ficaram para sempre impressos nas retinas dos fãs de horror. Ela interpreta uma
bruxa que, ao ser assassinada pela inquisição, tendo recebido a máscara de
tortura, coberta de pregos, por seus algozes, retorna após duzentos anos como
uma vampira para tomar o corpo de sua descendente. Um fator curioso é que, na
versão inglesa, omitiram a relação incestuosa da princesa vampira com o irmão,
Javutich.
3 - O Vampiro da Noite (Horror of Dracula – 1958)
Ainda que as presas do vampiro, símbolo máximo do
personagem, tenham aparecido pela primeira vez em um obscuro filme turco da
década de cinquenta, foi com Christopher Lee que se imortalizou a imagem, potencializada
pelo vermelho berrante do Technicolor no sangue que pingava das presas. Hoje em
dia é difícil mensurar o choque que o elemento da cor causou no gênero, mas era
algo que deixava os censores desorientados. Essa novidade que era vendida já no
trailer, levava muitos a pensarem que não passava de uma irresponsável
glamourização da violência, um deleite culposo para os olhos. O público estava
acostumado a ser poupado nos momentos mais grotescos. O desfecho de um duelo de
espadas em preto e branco poderia muito bem ser conduzido para as sombras dos
corpos na parede, minimizando o efeito visual da espada que atravessa o corpo
do vilão. Em “O Vampiro da Noite”, a câmera se aproxima para captar o
gorgolejar do sangue que explode do corpo, após a estaca ser enfiada no peito
da vítima.
2 – Nosferatu – Uma Sinfonia de Horror (Nosferatu, Eine
Symphonie des Grauens – 1922)
Um fator que considero fundamental para entender a
importância desse filme é ele ter sido responsável por uma das regras
essenciais no eterno mito do vampiro (pelo menos, até “Crepúsculo” aparecer e
destruir o conceito): a aversão à fatal luz do dia. O diretor F.W. Murnau sabia
que corria risco de ser processado pelo escritor Bram Stoker, já que iria
realizar uma cópia de “Drácula”, então sabiamente decidiu modificar o desfecho
da trama. Em vez do embate com Van Helsing e sua estaca, o vampiro seria
destruído pelo contato com os raios solares. Incrível imaginar que esse e outros
elementos do filme que seriam amalgamados ao mito, não nasceram de qualquer
impulso criativo consciente, mas apenas do medo de não serem flagrados
cometendo o crime de plágio. E fracassaram no intento, o que é ainda mais
fascinante.
1 – Martin (1977)
Obra-prima de George Romero, perfeita do início à última frase
dita, já nos créditos finais. Injustamente pouco conhecida pelo público geral,
considero a mais inteligente utilização do tema, amalgamando em sua essência
todas as qualidades sobre o mítico personagem que expus no parágrafo
introdutório desse especial. Há a clara crítica aos preceitos religiosos, na
figura do primo mais velho do jovem, porém existe um aspecto que poucos
percebem, evidenciado na cena do ataque inicial, no vagão do trem. Um livro,
mostrado em destaque, um par de vezes: “Beyond Freedom and Dignity”, “Para Além
da Liberdade e Dignidade”, do filósofo B.F. Skinner, título inspirado nos
trabalhos de Nietzsche e Freud, um estudo sobre como a chamada liberdade tradicional
é limitada, propondo então uma definição que fugisse do senso comum de condições
que impediriam os sujeitos de conhecer os inúmeros determinantes envolvidos no
controle dos comportamentos chamados de livres e dignos, um trabalho que define
os anseios do protagonista, vivido por John Amplas, que afirma ter oitenta e
quatro anos, apesar de sua aparência jovial, e que bebe o sangue de suas
vítimas. Ele não possui presas pontudas e debocha da figura caricatural do
vampiro, como na cena em que assusta o primo mais velho, vestido como o conde
da Transilvânia. Com a utilização de flashbacks, inserindo o jovem na realidade
que ele defende, o roteiro deixa a dúvida sobre a sanidade mental do
personagem, alguém que busca se encaixar na sociedade.
* O filme "Martin" faz parte da caixa "Obras-Primas do Terror 2", lançada pela distribuidora "Versátil", contendo também, além de vários extras: "O Ciclo do Pavor", "Lisa e o Diabo", "A Mansão do Inferno", "Pelo Amor e Pela Morte" e "Terror nas Trevas".
Não sou muito fã de filmes de terror,mas gosto de filmes de vampiros.Muitos desta lista não assisti.E um de meus preferidos é "Bram Stocker'sDracula".E há um,do ano passado,"Dracula,a história nunca contada",que achei boa diversão,belas imagens.Neste filme,o príncipe Vlad Tepes tem mulher e filho e faz um pacto com um demônio para derrotar os turcos.
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