Guerra - Flagelo de Deus (Westfront 1918: Vier von der
Infanterie – 1930)
Radicalmente diferente do que ocorre no superestimado “Sem
Novidade no Front”, lançado no mesmo ano, que exibia a angústia da Primeira
Guerra Mundial com um verniz vistoso, o olho do diretor G.W. Pabst,
demonstrando segurança em sua primeira incursão no cinema falado, está direcionado
à corajosa desromantização do combate, negando todas as possibilidades de
solucionar cenas potencializando a ação como facilitador de qualquer catarse
emocional, deixando de explorar qualquer momento que tenha a violência como
fator principal na narrativa. Ele recusa as fórmulas dos filmes do gênero, com
sua câmera estática captando a destruição sem pretensões estéticas, evitando
também o lugar comum que sempre insere a experiência militar como elemento
definidor do caráter dos soldados.
O roteiro, baseado no livro “Quatro de Infantaria”, de Ernst
Johannsen, evidencia que todos aqueles homens teriam ganhado muito mais caso
tivessem ficado em suas casas, que a guerra é estúpida, um tremendo e absurdo desperdício
de tempo. Até mesmo os poucos momentos de necessária diversão que o filme
aborda em seu primeiro ato, apresentações ingênuas de vaudeville, são mostradas
em ritmo lento, evidenciando a sensação de vazio e desorientação. A fotografia
de Fritz Arno Wagner, que havia sido responsável pelo “Nosferatu” de Murnau, ajuda
a dar realismo nas cenas das trincheiras, estruturadas de forma episódica,
acompanhando as aventuras de quatro soldados colocados em uma realidade
grotesca, obedecendo a ordens de aniquilar outros estranhos, porém iguais, que já
se consideram mortos em vida. É interessante também a forma como o roteiro
trata a desesperadora realidade das mulheres dos soldados, que eram forçadas à
prostituição, evidenciada na cena que mostra o flagrante de uma traição.
É linda a forma como a obra termina, colocando lado a lado
dois soldados inimigos moribundos. Um já não respira, enquanto o outro não
reconhece motivos para o ódio que os colocou naquela situação. A forte mensagem
que se mantém na mente após a sessão: ao sentir a presença da morte, com as
mãos dadas, duas vítimas numa simples necessidade, o saciar da sede. Mas a imagem
mais poderosa continua sendo a do soldado desabando emocionalmente no campo de
batalha, soltando um grito aterrorizante, contemplando toda a dimensão da
insanidade humana.
* O filme está sendo lançado pela distribuidora Versátil no box "A Primeira Guerra no Cinema", com mais cinco clássicos, incluindo "A Grande Ilusão" e o épico mudo "O Grande Desfile".
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