quarta-feira, 19 de novembro de 2014

"O Império dos Sentidos", de Nagisa Oshima


O Império dos Sentidos (Ai no Korîda – 1976)
A polêmica obra do diretor Nagisa Oshima foi inspirada em um caso real ocorrido no Japão em 1936. Uma jovem prostituta, chamada Sada Abe, foi encontrada caminhando pelas ruas num estado de êxtase, tendo consigo o órgão sexual extirpado de seu parceiro, assassinado dias antes pela própria garota enquanto faziam amor. Seria muito fácil afirmar que o filme é pornográfico, já que se passa praticamente todo focado na intimidade do casal, com várias cenas explícitas, expostas com uma naturalidade que faria Calígula corar.

Os protagonistas deliberadamente decidem pelo isolamento social, aumentando gradativamente a intensidade de seus jogos eróticos. Todos os tabus são executados, até mesmo uma arriscada insinuação nada sutil de pedofilia, mas, por incrível que pareça, a sensação que o sexo causa no espectador é antagônica àquela que pode ser encontrada na pornografia. O clima opressivo fatalista se mantém até o último instante. A iluminação expressionista nos espaços confinados, onde podemos quase sentir o odor do suor, como se eles estivessem se sacrificando, expiando os absurdos da militarização, uma metáfora que fica clara na cena onde vemos Kichizo, vivido por Tatsuya Fuji, seguindo na direção oposta de um pelotão de soldados.  O sexo livre como oposição lúdica ao império japonês e ao conservadorismo do pós-guerra. O homem é consumido por um intenso sentimento de culpa e frustração com a sociedade em que vive, escolhendo então exercer o poder maior, o domínio da mente sobre o corpo, que consiste em se entregar plenamente à Sada, vivida por Eiko Matsuda, resultando em sua radical decisão final.

Analisando o contexto da época, fica evidente a corajosa transgressão de colocar a mulher como dominadora, deixando para o homem o papel de cobaia de suas experiências cada vez mais ousadas. Ela se liberta dele ao castrá-lo, numa das cenas mais impactantes, sobrevivendo à satisfação de seus desejos e, indo além, possuindo o órgão sexual dele, aquilo que definia sua importância aos olhos dela, negando definitivamente o ideal romântico da morte como suprema entrega. Não é de se surpreender que a verdadeira Sada tenha se tornado um símbolo feminista em sua nação. 

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