Grand Central (2013)
Com o olhar detalhista de uma documentarista, a jovem
cineasta Rebecca Zlotowski direciona suas lentes para uma realidade
desconhecida pela maioria do público, a rotina diária dos trabalhadores de
usinas nucleares, filmada em locação. O roteiro consegue, sem apelar para o
melodrama, entrecruzar o romance com os conflitos físicos e emocionais gerados
pelo arriscado trabalho.
O personagem vivido por Tahar Rahim é inconsequente, com uma mancha criminal em
seu passado, um homem estruturalmente fragilizado. Como é mostrado numa rápida
cena inicial, onde ele displicentemente monta um touro mecânico, fica
estabelecida sua atitude irresponsável perante o perigo. O contraste visual
entre a necessária rigidez da prática diária na usina e os encontros passionais
libertários do casal dá o tom da tensão que é mantida do início ao fim. Existe
também uma crítica subliminar, que espertamente é deixada para ser trabalhada
no inconsciente do espectador, em que nunca sabemos se as eventuais vítimas da
radiação sofrem por estarem morrendo ou por estarem perdendo seus empregos.
A metáfora principal é ainda mais interessante, já que o protagonista é
consumido gradativamente por seu desejo pela bela noiva de seu colega, vivida
por Léa Seydoux, tanto quanto pela radiação. Ele não se importa em colocar sua
saúde em risco, contanto que se mantenha próximo da garota. A jovem, por outro
lado, esconde por trás de sua atitude sexualmente desafiadora, representada
também pelo seu vestuário, um terrível medo de se apaixonar. Esse medo intangível
nos dois, simbolizado pela intoxicação radioativa e pela ousadia da escolha por
um amor proibido, é realmente o leitmotiv da obra, o elemento que o
diferencia dentre tantos romances convencionais.
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