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A Fortaleza (Fortress – 1985)
A professora Sally Jones (Rachel Ward) e seus alunos estão
em mais um dia comum na escola quando são sequestrados por homens mascarados -
eles usam assustadoras máscaras de animais e de Papai Noel. Os bandidos levam
Sally e as crianças para uma gruta e os deixam lá para resolverem as demandas
do resgate. Só que as espertas crianças conseguem escapar para o meio do mato.
Quando os sequestradores descobrem a sua localização, a professora e os jovens
chegam ao seu limite, sendo obrigados a responder com crueldade e fúria diante
de seus opressores.
Tive acesso recentemente ao livro original, escrito por
Gabrielle Lord, fiquei impressionado com a fidelidade da adaptação. A autora se
baseou em um caso real ocorrido na Austrália, no início da década de setenta,
uma professora que foi sequestrada com suas alunas e conseguiu escapar com as
adolescentes, atitude que a fez receber uma premiação por sua coragem. O
roteiro não se preocupa tanto com a verossimilhança, várias sequências são
pensadas como alegoria, uma espécie de conto de fada subversivo. O nível de
violência é alto, não era o tipo de entretenimento que costumava ser exibido
naquela faixa de horário, o desfecho mostrava crianças ensandecidas
assassinando friamente seus sequestradores, fazendo questão de manter como
souvenir o coração do líder deles, guardado em um pote na sala de aula. Esse
detalhe desperta uma questão interessante: ao ultrapassarem seus limites
morais, dominados pelo instinto animalesco de sobrevivência, as crianças não
somente perderam qualquer conceito de inocência, como também abraçaram a
violência como força motriz em qualquer situação. Eles se tornaram exatamente o
reflexo daqueles monstros que enfrentaram.
Hoje em dia esse telefilme australiano só seria exibido durante
a madrugada televisiva. Eu, com a ingenuidade da idade, torcia para viver uma
aventura dessas naquelas excursões da escola, mas a maior emoção de que me
recordo foi uma vez que o pneu do ônibus furou e tivemos que esperar algumas
horas para retomar a viagem. Eu lembro que assisti a reprise da minissérie “Os
Pássaros Feridos” no SBT somente por ter gostado desse filme, já que teria a
possibilidade de ver mais uma vez a bela Rachel Ward. Ela era a professora que
todos nós gostaríamos de ter. Nunca me esqueço da cena em que ela, explorando a
gruta com um dos alunos, ficava nua e atravessava nadando a água gelada. Era
impagável a expressão do garoto, quando ela voltava dizendo que havia
encontrado uma saída. Com toda certeza, por alguns minutos, ele até esqueceu
que estava em uma situação de perigo. Mais adiante, quando ambos voltaram com o
restante da turma, a professora nadou tranquilamente com as roupas de baixo, o
que me deixava uma nítida impressão de que ela havia anteriormente provocado o
aluno de propósito. Claro que era criação da minha cabeça pervertida de
pré-adolescente introvertido, mas já bastava. Engraçado que, na mesma cena,
havia uma linda aluna seminua envergonhada, mas eu só tinha olhos para a
professora, acho que inconscientemente eu sempre preferi mulheres mais velhas.
A motivação dos sequestradores mascarados recebe alguma
atenção no livro, mas o roteiro inteligentemente os transforma em forças
inexplicáveis da natureza, o que intensifica o senso de perigo constante. Ao
contrário de muitos projetos similares da época, “A Fortaleza” sobreviveu muito
bem ao teste do tempo, especialmente em sua versão sem cortes.
Paraíso Azul (Paradise – 1982)
Dois adolescentes escapam do ataque de mercador de escravos
no meio do deserto. Únicos sobreviventes do massacre, o casal de jovens foge de
camelo e se refugia num oásis onde se apaixonam e começam a descobrir a
sexualidade.
Já começo afirmando que o filme é horroroso. O único motivo
que me fez nunca esquecer sua existência atende pelo nome de Phoebe Cates. Mais
um presente apimentado do “Cinema em Casa” do SBT para os pré-adolescentes, que
compartilhavam a certeza de que o dever de casa seria postergado e que, durante
sua exibição, a porta do quarto ficaria trancada. Em um mundo sem internet,
assistir a nudez feminina nas tardes politicamente incorretas era como tocar o
céu, motivo de ansiedade e expectativa. A conversa na sala de aula era: “Sabe qual
filme vai passar hoje? Paraíso azul!” Era a mensagem cifrada que fazia com que
o tempo corresse. Com a Phoebe nos aguardando em casa, não havia matemática que
nos irritasse. Já ficávamos doidos com ela em “Picardias Estudantis”, mas nessa
cópia fajuta de “A Lagoa Azul” ela aparecia o tempo todo, aquele rostinho inesquecível.
Não vou enganar você, caro leitor, afirmo que não me recordo
de absolutamente nada sobre a trama. Na época, após gravar em VHS, assistia
apenas as cenas em que ela aparecia mais, digamos, confortável. Eu marquei na
contracapa da fita os minutos, então era possivelmente o filme em que mais
gastava o botão FF do aparelho. Nunca me esqueço da conversa dela com o rapaz,
onde ele dizia que a nudez era um pecado, já que Adão e Eva usavam folhas
grandes. E ela então afirmava: “Como pode ser pecado algo tão belo?”. Segundos
depois, somos conduzidos a uma cena em que a jovem se banha dentro de uma
caverna, apenas para, com os queixos no chão, confirmarmos o argumento dela.
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