O Homem Mais Procurado (A Most Wanted Man - 2014)
Com apenas três filmes no currículo, o diretor holandês Anton Corbijn consegue reafirmar sua segurança nessa ótima adaptação da melancólica obra de
John le Carré, um dedo crítico apontado em desprezo aos métodos adotados pela
inteligência americana da era Bush filho, que se torna ainda mais relevante por
mostrar uma das melhores atuações do saudoso Philip Seymour Hoffman, como um
solitário e desesperançado líder da agência secreta alemã contra o terrorismo,
que, como é usual nos trabalhos do escritor, necessita resgatar a confiança em
si mesmo e nos outros. É válido ressaltar a inteligência criativa de substituir
o excesso de diálogos expositivos, usuais em tramas similares, pela utilização
de elegantes metáforas visuais, que enriquecem a obra em uma revisão mais
atenta.
A força do elenco ajuda a dar peso à trama, com destaque para Robin Wright,
Daniel Brühl, Willem Dafoe e Homayoun Ershadi, parceiro de Kiarostami em “Gosto
de Cereja”, que, mesmo limitado em um papel estereotipado, consegue impor sua
presença. Um thriller adulto, coisa rara na indústria atual, onde as melhores
cenas de ação ocorrem em trocas de olhares inebriados de uísque ou na fumaça do
cigarro que o protagonista expele após mais uma desilusão. Um homem exaurido,
um elemento que o ator sinaliza com a rouquidão da voz. Aquele tipo de suspense
que depende exclusivamente do investimento emocional do público com o
personagem, temendo pela consequência natural de seus atos.
E, diferente de outras adaptações do autor, o roteiro de Andrew Bovell não
comete o equívoco de tentar abraçar todos os temas em duas horas, decidindo
espertamente se focar no personagem vivido por Hoffman, cuja contraparte
literária nem é tão interessante, mas que era enigmático o suficiente para ser
explorado na linguagem cinematográfica. E o aspecto visual é um elemento
essencial na condução da trama, graças à fotografia de Benoit Delhomme, com uma
paleta azul fria que evidencia a onipresença da morte, não somente de forma
literal, mas também ideológica.
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