sexta-feira, 7 de novembro de 2014

"A Fita Azul", de Rebecca Thomas


A Fita Azul (Electrick Children - 2012)
Um tesouro indie, que merece ainda maior reconhecimento por ser a estreia de uma cineasta ousadamente autoral. Guardem esse nome: Rebecca Thomas. 

Rachel (Julia Garner, ótima em cena) é uma adolescente enraizada em uma tradição mórmon fundamentalista que a faz viver a negação da luz elétrica, do sexo antes do casamento e da música. Seu pai (Billy Zane) é apresentado como o frio interrogador que grava as respostas da filha no dia de seu aniversário, salientando um relacionamento que é estabelecido pela “fachada” e não por qualquer sentimento genuíno. O roteiro sugere possibilidades perturbadoras para sua gravidez, evento que choca a sociedade extremista em que está inserida, mas sabiamente posiciona o foco nos terríveis efeitos psicológicos advindos do fanatismo religioso e dos males de uma existência asséptica. 

A menina acredita que o prazer que sentiu ao escutar escondida o vibrante Rock and Roll, numa fita azul perdida em um porão, causou a sua gravidez. Em sua inocência, sente que o fruto imaculado de sua virgindade perpétua poderá ser o filho de Deus. Num detalhe esperto do roteiro, os pais se revoltam ao constatar a ingenuidade da filha, quando na realidade passaram a vida toda ensinando a menina a crer nas lendas mais absurdas e miraculosas, aplaudindo-a por não questioná-las em nenhum momento. Rachel é fruto direto de uma vida de irresponsável alienação. O roteiro também acerta ao não trilhar o caminho previsível e cômodo da farsa, da comédia nascida do contraste cultural. É encantadora a sinceridade com que Rebecca, que veio de uma origem mórmon, trabalha a aventura pessoal da protagonista, que decide abandonar os valores de sua família e fugir para Las Vegas em busca daquele que acredita ser o pai de seu filho, o dono da voz na fita. Como Dorothy, a jovem sai do Kansas e enfrenta o mundo de Oz. 

A direção nos faz entender as decisões da menina utilizando recursos oníricos, um realismo mágico que salienta a vívida imaginação de uma pessoa que enfrenta o mundo real pela primeira vez. O ótimo desfecho demonstra o desinteresse em revelar os mistérios, elementos que menos importam nesse “road movie” muito original. 

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