O Que os Homens Falam (Una Pistola en Cada Mano - 2012)
Ao contrário do que muitos pensam, cinema não é só imagem.
Diretores como Richard Linklater e Robert Altman, por exemplo, nos encantam com
longas conversas, emolduradas pela ação das cenas. Essa estrutura, além de ser
muito mais desafiadora para os atores, costuma tocar com eficiência no racional
do espectador, enquanto a imagem exercita mais o emocional. É o caso dessa
ótima comédia dramática do diretor espanhol Cesc Gay, dividida em seis
segmentos que se unem apenas no desfecho, tendo em comum apenas personagens que
estão vivenciando a crise dos quarenta anos. Num interessante exercício de
psicologia, o roteiro tenta desnudar vários ângulos da insegurança masculina
perante a inexorável consciência da mortalidade.
Todos os curtas são eficientes, mas o segundo é uma aula de como inserir
gradualmente o humor em uma situação constrangedora, de forma elegante e com
espaço até para referências pop nada convencionais. Nele, o personagem de
Javier Cámara descobre que sua ex-mulher o trocou por um garoto, quando tenta
insistentemente reconquistar seu amor. Com impecável timing cômico, o pobre
homem afirma que ainda tem sonhos eróticos com a esposa, somente para escutar
que também habita nos sonhos dela, mas de forma menos interessante, sempre
tendo infartos. É uma tragédia pessoal similar ao do protagonista do primeiro
curta, que confidencia a um amigo que não via há tempos toda sua angústia,
revelando com pesar estar novamente morando com sua mãe, salientando ter
completado quarenta e seis anos, como se fosse quase uma falha de caráter. Em
outro segmento, o excelente Ricardo Darín também se aproveita da paciência de
um amigo para confidenciar o adultério de sua esposa, ação que trará
consequências.
Cada situação evoca, com humor ácido e inteligente, uma crítica ao estado de
espírito derrotista que pode atingir a pessoa em qualquer idade. A verdade é
que grande parte dos problemas que são relatados provavelmente não teriam
ocorrido caso os personagens não se preocupassem tanto em reverter o irreversível
tempo, mas sim “mastigar” a delícia de cada momento como se fosse o último. A
mensagem clara que a obra passa é que precisamos aproveitar tudo ao máximo e da
melhor forma, até mesmo os obstáculos naturais que nos são atirados. A
necessária maturidade emocional, como esses personagens demonstram, não chega
com a idade adulta, mas com o despertar consciente e sem ilusões teoricamente
benfazejas sobre a realidade de nossa finitude.
Nenhum comentário:
Postar um comentário