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7 Caixas (7 Cajas - 2012)
Como
sempre digo, o cinema necessita apenas de boas ideias. O baixo orçamento, a
ausência de uma indústria nacional, nada é desculpa para a carência de
criatividade. E é exatamente essa lição que os roteiristas e diretores
paraguaios Juan Carlos Maneglia e Tana Schembori entregam com esse thriller,
que traz referências que vão do alemão “Corra, Lola, Corra” ao trabalho de
câmera de Danny Boyle, compondo um retrato autêntico da pobreza de personagens
que são os órgãos responsáveis pela vida caótica de um mercado popular em
Assunção.
O protagonista, vivido competentemente pelo jovem Celso Franco, sonha com o
escapismo transmitido pelo entretenimento televisivo, ferramenta mostrada como
eficiente construtora de desejos. Ele somente se interessava em adquirir um
celular por causa do recurso de filmagem. Ao se deparar com sua própria imagem
projetada naquelas telas mágicas, um leitmotiv que se repete com variações
algumas vezes durante o filme, o garoto pobre encontra alguma esperança naquela
existência momentânea e ilusória, uma possibilidade de fugir do seu cotidiano
triste. Para conseguir o dinheiro necessário para a compra do celular, ele
aceita uma proposta de serviço enigmática: transportar rapidamente sete caixas
lacradas de madeira, conteúdo desconhecido, até um destino que ele somente
descobrirá durante o trajeto. Quanto menos se souber da trama, melhor será a
experiência. Como ponto negativo no roteiro, mas perdoável no contexto da obra,
uma excessiva utilização de coincidências. Por exemplo: uma cena desnecessária
que é inserida no primeiro ato apenas como forma de mostrar que um policial X
flerta com uma personagem, apenas para que no segundo ato esse mesmo policial,
dentre os vários que poderiam estar presentes no local, servisse como
facilitador na resolução de um conflito narrativo.
Ainda que o projeto surpreenda na qualidade do suspense que estabelece, o que
realmente o eleva a um patamar superior quando comparado a outros similares é a
perfeita utilização do dinamismo na missão do garoto no estilo clássico dos
filmes de ação americanos, com a inclusão de vários elementos com interesses
conflitantes e câmeras que atravessam por baixo de mesas em perseguições
empolgantes, como um McGuffin “hitchcockiano”, enquanto o verdadeiro conto
moral envolve a subtrama de uma jovem grávida que está prestes a dar à luz. A
mesma mulher que é estabelecida logo nos primeiros minutos como alguém que
tenta desesperadamente vender o celular que se torna o objeto de desejo do
protagonista. O desfecho do arco narrativo da mulher irá contrastar
contundentemente com o do garoto, deixando clara a intenção do roteiro, uma
mensagem muito mais perene que qualquer convenção de seu gênero. Podemos ficar
fascinados pelas câmeras que seguem, em POV, as rodinhas dos carrinhos de mão em
planos-sequência de ação que não deixam nada a dever para aquelas realizadas em
indústrias já estabelecidas, mérito também do fotógrafo Richard Careaga, mas
são as atitudes silenciosas que se manterão nas mentes do público, várias horas
após a sessão.
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