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Lady Snowblood – Vingança na Neve (Shurayukihime – 1973)
Adaptado do mangá de Kazuo Koike, responsável também pelas
aventuras do “Lobo Solitário”, esse filme é atualmente citado sempre como a
principal inspiração de Quentin Tarantino em seu “Kill Bill”, mas o verdadeiro
mérito dele é a forma como reflete a ansiedade de uma era, combinado com uma
visão filosófica da violência, simbolizada pela vingança da protagonista contra
uma agressão ocorrida antes de seu nascimento, vivida competentemente por Meiko
Kaji, como um fardo perpetuamente cíclico, conceito envolto por uma camada de
excessos comuns aos chambara grindhouse do início da década de setenta, influenciados
pela violência dos projetos sobre a Yakuza, com o diretor Toshiya Fujita
estendendo tomadas, congelando quadros, experimentando com o fotógrafo Masaki
Tamura no intuito de potencializar o impacto emocional em cada cena. Comparado à
densidade temática do original, o projeto do americano é um divertido desenho
animado.
A jovem Yuki que nasce na prisão, acaba se preparando a vida
toda para o encontro com os estupradores de sua mãe. Ela é a metafórica filha
do ódio, desprovida de qualquer emoção que não seja a retribuição em sangue,
fruto de várias relações que sua mãe mantinha com colegas da prisão. A escolha
de retratá-la como uma guerreira hábil, porém falível, ajuda na construção do
suspense, mostrando sua natureza instável e sua batalha para conter a raiva,
evidenciada, por vezes, em sutis gestos e expressões. Ela não é uma máquina de
guerra, mas uma espécie de revolucionária que reflete sua nação, elemento
evidenciado pela decisão de entregar a narração dos eventos nas mãos de um
jornalista, vivido por Toshio Kurosawa, que, eventualmente, traça subliminares
paralelos sociais entre os atos daquela que investiga e as mudanças políticas que
tomavam de assalto a sociedade japonesa.
* A distribuidora Versátil está lançando o filme em uma versão
dupla, recentemente restaurada, com sua sequência: “Uma Canção de Amor e
Vingança”.
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