Depois de Lúcia (Después de Lucía - 2012)
Como alguém que já sofreu na adolescência com estes atos de
violência física e psicológica, afirmo que nunca assisti uma obra que retrate
tão fielmente a angústia que envolve o "bullying". Normalmente
utilizado pelas lentes do cinema como ferramenta de humor, com o valentão
intimidando o nerd, amenizando com absurdos estereótipos uma prática muito
comum, que ocorre em todas as escolas. Violência nascida de um desvio de caráter,
levando aquele adolescente a continuar praticando este tipo de intimidação pelo
resto da vida, em trotes universitários, brigas nos campos de futebol ou em
discussões no trânsito, por exemplo.
O diretor Michel Franco acerta ao evitar qualquer clichê ou melodrama,
apostando no completo silêncio. A câmera quase sempre estática acentua a
imersão do público, obrigado a focar sua atenção por vezes em eventos que
ocorrem quase fora do enquadramento. Não há alívios cômicos, a, por vezes, insuportável tensão é mantida do início ao fim. A jovem Alejandra está
emocionalmente abalada com a morte de sua mãe, a Lúcia do título, e sente seu
pai cada vez mais distante, o que acaba deixando-a vulnerável no ambiente
social em que passa grande parte de seu tempo: a escola. A divulgação de um
vídeo dela em um momento íntimo promove uma perseguição hipócrita, pois aqueles
mesmos jovens, como se mostra em uma cena, não viam mal algum em expor suas
aventuras sexuais. Evitando passar para seu perturbado pai mais um problema,
ela corajosamente suporta sozinha todas as provações diárias. Aquele que não é
violento, não costuma saber lidar instintivamente com a violência. O terceiro
ato é radicalmente diferente, em ritmo e tom, entregando um desfecho
extremamente satisfatório, evidenciando ainda mais a clara inspiração nos
trabalhos de Michael Haneke, ainda que ideologicamente incoerente em sua
catarse.
A intenção óbvia é causar com seu indefensável impacto, uma necessária
reflexão. O que leva um jovem a buscar humilhar um colega que nada lhe fez?
Quais as razões por trás da cumplicidade silenciosa daqueles que testemunham
estes atos? Qual a influência dos pais neste processo? Perguntas que o roteiro
nos direciona, aguardando uma resposta em nossas consciências. Filme
obrigatório!
Nenhum comentário:
Postar um comentário