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Dirty Dancing – Ritmo Quente (Dirty Dancing – 1987)
É curioso perceber que a crítica especializada foi bastante
hostil com o filme em sua estreia, o saudoso Roger Ebert chegou a dar cotação
mínima, elogiando apenas a criatividade do título. O fato é que, passados 27
anos, ele ainda garante altos índices de audiência em suas frequentes
exibições, fazendo parte do universo pop, com suas cenas sendo representadas em
festas de casamento ao redor do mundo. Existe algo de especial nele que atrai
pessoas de todas as classes sociais, algum elemento que faz com que o público
se interesse em repetir diversas vezes a mesma experiência. Esse fator mágico
que evidencia a negação do cinema como equação matemática, onde o conceito subjetivo
de perfeição pode comportar uma soma de defeitos.
O diretor Emile Ardolino, que só alcançaria o gosto do público
novamente cinco anos depois, com a comédia de Whoopi Goldberg: “Mudança de
Hábito”, era especialista em documentários sobre o mundo da dança, tendo lutado
para provar à roteirista Eleanor Bergstein que, mesmo sem um projeto de ficção
no currículo, seria capaz de dirigir aquela obra, inspirada em eventos reais
ocorridos na juventude da escritora. A coreografia, essencial por ser parte da
narrativa em um musical, foi elaborada por Kenny Ortega, discípulo de Gene
Kelly. A opção por dançarinos que soubessem atuar foi crucial no resultado
final, fazendo com que nenhum momento soasse forçado, artificial. Por trás da trama aparentemente simples e usual nos chamados
“chick flicks”, uma adolescente sempre colocada pra escanteio e que encontra
sua voz ao lado de um rapaz mais velho, existe um subtexto que poucos discutem.
Quando se analisa mais profundamente, costuma ser abordada a questão óbvia do
feminismo, mas quase nunca é citada a referência ao livro “A Nascente”, de Ayn
Rand. Uma cena muito rápida, onde o arrogante garçom que engravida a dançarina
(Cynthia Rhodes), que considerava uma classe inferior, se recusa a ajudar, entregando
o livro para Baby (Jennifer Grey), como sugestão de leitura, afirmando que “algumas
pessoas importam, outras não”.
O livro celebra o Objetivismo, os esforços de gênios
criativos que conduzem suas vidas focadas completamente nos seus objetivos
profissionais. A necessidade de precisar recusar ceder a qualquer impulso que tire
o indivíduo de sua trilha, para que eventualmente obtenha sucesso pleno
profissional e felicidade pessoal. O garçom estava tomando de forma torta a
filosofia do livro para defender seus atos, considerando-se uma versão do
protagonista Howard Roark, já que até mesmo o estupro deveria ser desculpado
quando perpetrado por um indivíduo extraordinário. A desorientada irmã de Baby, aquela a quem ele realmente
intencionava sugerir o livro, deveria, em seu ponto de vista, encontrar
identificação com as personagens femininas das páginas, perdoando seu impulso
sexual e considerando-se privilegiada por ser desejada. Mas Baby se ofende com
a indicação literária, atacando-o agressivamente, ameaçando até causar sua
demissão caso ele se aproximasse de sua irmã. Esse é o momento em que ela, sem
ajuda de ninguém, existencialmente “sai do escanteio”, muito antes do clássico
desfecho, onde é convocada por Johnny (Patrick Swayze) para o palco.
Ela já demonstra força de caráter desde o
início, conquistando o respeito de Johnny com sua reação ao erro na primeira
dança, quando estava se adaptando apressadamente a uma coreografia que
pertencia a uma dançarina profissional, aquela que havia sido violentada e
necessitava do dinheiro para o aborto, um tema que o filme aborda de forma
corajosa para sua época. Ao invés de colocar tudo a perder, ela improvisa um
passo esquisito, mas funcional, sem medo da vergonha. Diferente do que muitos
pensam ao terminar o filme, não se trata da história de uma patinha feia, Baby tinha
consciência de que era um cisne desde o início. A simbologia da cena em que ele
a levanta no ar é interpretada usualmente de forma machista. Não se trata do
príncipe encantado que escolheu salvar a dama em apuros. Johnny é quem aprende
e amadurece, sendo salvo e inspirado pela integridade de caráter da jovem. Ele
a levanta no ar como forma simbólica de salientar a grandeza da personagem,
acima de todos os comuns. Ao final da dança, Swayze sublinha o trecho da canção
que explicita sua gratidão: “And i owe it all to you” (e eu devo tudo a você).
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