O Grande Gatsby (The Great Gatsby - 2013)
Ainda que não seja necessário, recomendo que a leitura da
obra seminal de F. Scott Fitzgerald sobre a fragilidade do "Sonho
Americano", anteceda a sessão do filme. A mais famosa versão
cinematográfica até o momento era a protagonizada por Robert Redford, que
fracassava em diversos aspectos, inclusive como adaptação. Baz Luhrmann acerta
onde todos erraram, demonstrando entender perfeitamente a essência do livro,
incorporando-a ao seu próprio estilo de rebeldia elegante, que combina
perfeitamente com a proposta do autor.
Nick Carraway (Tobey Maguire) e Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio) representam
facetas antagônicas da personalidade do autor: o tímido e respeitoso jovem que
se deslumbra com os excessos da alta sociedade e o homem seguro, que utiliza
seu carisma e posses para impressionar a mulher que deseja. No meio do fogo
cruzado, Daisy Buchanan (Carey Mulligan), personagem parcialmente inspirada em
Zelda, esposa do autor, escrava de seu amor pelo enriquecimento material, porém
indiferente à afeição humana, uma caricatural crítica aos valores amorais da
aristocracia da América dos anos 20. Todos os personagens utilizam as pessoas
como peões nos tabuleiros de seus desejos, descartando-as como se nada
valessem, após o cumprimento de suas funções em seus planos. Gatsby talvez seja
o único que não tenha sido corrompido pela sua riqueza, pois a utiliza
objetivamente para galgar os degraus que o encaminham ao seu sonho pessoal. Ele
não necessita de todo aquele luxo, conseguiria se destacar até mesmo na
pobreza. Fitzgerald, captado com maestria por Luhrmann, aponta o dedo para a
banalização dos valores humanos, na incessante busca pelo ilusório status que
advém do sedutor e corruptível brilho do ouro.
O diretor exercita seu estilo, misturando música contemporânea, como o hip-hop
que emoldura nosso primeiro vislumbre da fictícia cidade e o primeiro encontro
de Carraway com o mundo boêmio, e canções da época, como a espirituosa
"Let´s Misbehave", de Cole Porter, além de utilizar generosamente o
auxílio da computação gráfica nos exteriores, o que realça o tom de
artificialidade que envolve a trama e os personagens. Interessante também é a
forma como o roteiro utiliza de forma inteligente a inalcançável luz verde do
píer, elemento importante no livro, como um tema visual recorrente, que
simboliza o desejo de Gatsby por alcançar Daisy, prendê-la em seu mundo.
"O Grande Gatsby" é um filme que deixaria seu autor orgulhoso.
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