O Mesmo Amor, a Mesma Chuva (El Mismo Amor, La Misma Lluvia
– 1999)
Uma obra-prima de sensibilidade e paixão. Além de ser um
ótimo ponto de partida para se interessar a conhecer melhor o cinema argentino.
Depois desse projeto, o diretor Juan José Campanella iria se tornar mundialmente reconhecido por “O
Filho da Noiva” e, especialmente, “O Segredo dos seus Olhos”.
Jorge Pellegrini, vivido pelo competente Ricardo Darín, é uma jovem promessa da literatura argentina, mas acaba
desperdiçando seu talento escrevendo contos simplórios para uma revista. Em uma
noite chuvosa ele conhece Laura, a bela Soledad Villamil, uma garçonete que
está à espera do namorado, do qual não tem notícias desde que ele partiu para o
Uruguai alguns meses antes. Jorge e Laura ficam muito unidos e a moça, ciente
do grande talento do rapaz, tenta convencê-lo a singrar sem medo os bravios
mares da literatura. Essa história cativante atravessa vários anos, passando
por diferentes momentos políticos do país, porém sempre focada na evolução dos
personagens principais.
O filme possui várias cenas memoráveis, como a poderosa
crítica que Campanella reserva aos seus colegas de profissão. Jorge assiste em
um pequeno cineclube a exibição de um curta-metragem baseado em um de seus
contos. Todas as suas ideias são distorcidas pelo jovem diretor, que criou um
emaranhado de cenas sem nenhuma conexão entre si. O trabalho exibido nos remete
às experiências cinematográficas de diretores como Godard e Antonioni, porém a
crítica aponta para todos os que administram sua arrogância na criação de obras
tidas como “não comerciais”. O que o diretor deixa claro pelos lábios de Darín
é que não existe cinema que não seja comercial. Toda a sensibilidade passional
do conto escrito pelo personagem se perdeu em todo aquele jogo de luzes e
cortes de câmera essencialmente desumanizadores.
O trabalho é brilhante e popular.
O romance soa natural e nos cativa desde o primeiro momento. A crítica política
existe, porém como uma moldura, nunca como a pintura. Em nenhum momento se mostra
apelativo ou simplista, todos os elementos se unem com perfeita simetria. É
daqueles filmes que se tornam melhores a cada revisão.
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