Frank Sinatra começou em Hollywood utilizando sua imensa
popularidade como crooner da orquestra de Tommy Dorsey, na década de
quarenta, em produções modestas (chanchadas) dos estúdios RKO, como “Noites de
Rumba” (1941) e “Barulho a Bordo” (1942). Após afastar-se da orquestra e
iniciar seu trabalho solo, continuou buscando aperfeiçoar-se como ator. Vale
destacar nesse período inicial a sua participação no musical: “Quando as Nuvens
Passam” (1946), cantando a emocionante “Ol´ Man River” de Jerome Kern e Oscar
Hammerstein. O primeiro filme em que teve a oportunidade de construir um
personagem foi o divertido musical “Marujos do Amor” (1945), onde fazia dupla
com Gene Kelly. Seguindo o mesmo molde, vieram produções que se alternavam
entre o tolo/divertido (caso de “A Bela Ditadora”) e o medíocre/embaraçoso (caso
de “Beijou-me um Bandido”). A obra que simbolizaria essa época: “Um Dia em Nova
York” (1949), ainda mantém certo charme, mas talvez tenha sido,
dentre os filmes dirigidos por Stanley Donen em sua fase inicial, aquele que
envelheceu pior. Musicalmente, o final da década de quarenta estava sendo
desolador para o cantor, que via suas canções despencando nas paradas de
sucesso. Muitos acreditavam que sua carreira estava acabada.
A década de cinquenta representou o período em que Sinatra ressurgiu,
demonstrando extrema ousadia e coragem. Diferente de Elvis Presley, que tinha um empresário ganancioso que limitava suas escolhas
cinematográficas a produções sem ambição, veículos para sua carreira musical,
Sinatra estava livre para decidir seu rumo na indústria. Em “Double Dynamite” (1951),
contracenava com Jane Russel e Groucho Marx. Na gema noir esquecida “Meet
Danny Wilson” (1952), ele interpreta um personagem quase autobiográfico. No ano
seguinte, como coadjuvante no belo “A Um Passo da Eternidade” (From Here to
Eternity), recebeu um Oscar (entre os concorrentes, estava Jack Palance) e
tornou-se novamente interessante para os produtores, que voltaram a apostar em
seu nome nos letreiros luminosos. Em “Meu Ofício é Matar” (Suddenly – 1954) ele realiza aquela que considero sua melhor interpretação: um sociopata que decide
assassinar o presidente dos Estados Unidos, atirando de uma janela com um fuzil de
precisão. Quando o presidente Kennedy foi vítima de algo similar anos depois,
o cantor demonstraria seu arrependimento por ter participado da obra (existe um
boato mentiroso, que afirma que ele teria impedido a exibição posterior do
filme), que o assassino Lee Harvey Oswald afirmou ter assistido um dia antes de
cometer o crime. O único vilão que Sinatra interpretou no cinema, numa
caracterização ambígua e corajosa que apontava seu interesse em expandir os
horizontes de sua carreira como ator, infelizmente perdida em meio a uma
corrente de infortúnios. Após alguns musicais ingênuos, ele novamente viria a
demonstrar seu talento em “O Homem do Braço de Ouro” (1955), dirigido pelo
genial Otto Preminger. Como um viciado em heroína, recebeu sua segunda
indicação ao Oscar, mas dessa vez o felizardo foi Ernest Borgnine, por “Marty”.
O filme possui vários problemas no roteiro (personagens secundários pifiamente
construídos, por exemplo), mas a atuação de Frank é impecável.
Brincadeiras refinadas como “Alta Sociedade”, em que contracenava com Bing
Crosby e Grace Kelly, e “Meus Dois Carinhos” ancoravam-se numa fórmula de
sucesso, mas somente administravam a persona do cantor, nunca a
aprimoravam. No final da década ele começou a incluir seus amigos, que formavam
a sociedade informal popularmente conhecida como “Rat Pack”, em suas produções, como Dean Martin e
Shirley MacLaine em “Deus Sabe Quanto Amei” e Peter Lawford em “Quando Explodem
as Paixões”.
“Onze Homens e Um Segredo” (Ocean´s Eleven – 1960) é o símbolo da parceria
entre os membros do “Rat Pack”, que incluía Sammy Davis Jr. e Joey Bishop.
Entre momentos bem engendrados, como o último ato, e outros menos
inspirados, o que mantém o charme da produção é
o clima de camaradagem que exala em cada cena. Os anos seguintes foram de
experimentação para o astro, que chegou a dirigir (e estrelar) o bom filme de
guerra: “Ninguém foi Tão Valente” (1965). Chegou a contracenar com medalhões
como Spencer Tracy (no fraco “A Hora do Diabo”) e Lee J. Cobb (no mais fraco
ainda “Come Blow Your Horn”). Enquanto considero o já citado “Meu Ofício é
Matar” como sua melhor interpretação, “Sob o Domínio do Mal” (The Manchurian
Candidate – 1962) é seu melhor filme. Dirigido por John Frankenheimer, Sinatra
novamente tocou em um tema espinhoso, vivendo um herói militar que retorna para
casa após a guerra, somente para perceber que foi usado em uma trama de
espionagem, onde por meio de hipnose foi levado a assassinar até mesmo membros
de seu próprio pelotão. Na segunda metade da década de sessenta, protagonizou
alguns bons filmes de suspense, como “Tony Rome” e “The Detective”. Ele retornou de
forma elegante após longos anos no fraco drama “The First Deadly Sin” (1980),
onde contracenava com a bela Faye Dunaway.
Sinatra será sempre lembrado por sua brilhante carreira musical, poucos
realmente dão o valor merecido à sua carreira cinematográfica, que é rica. Ele
vivia depreciando seus méritos como ator, mas basta um olhar atento ao seu
conjunto de obra para notarmos que, em sua versatilidade, ele abraçava personagens
dos mais variados, sempre entregando algo correto e elegante.
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