A distribuidora “Versátil” está lançando o extraordinário box
“O Cinema de Mizoguchi”, com cinco filmes restaurados do mestre, incluindo a
obra-prima “Contos da Lua Vaga”.
As Irmãs de Gion (Gion no Shimai – 1936)
“O único propósito de uma gueixa é dar prazer aos homens.
Eles nos pagam para sermos seus brinquedos. Somos compradas e vendidas como
bens comuns”.
Logo no início, podemos assistir o movimento da câmera em
tracking shot, calculadamente da esquerda para a direita, como forma de
estabelecer a metáfora da falência social do personagem Furusawa (Shinagoya
Benkei), vendo-se obrigado a leiloar seus pertences, e a inevitabilidade da
contundência do tempo. Percebemos que estamos diante de um cineasta autoral,
com uma mensagem objetiva e total noção de como passá-la imageticamente da
maneira mais eficiente.
A irmã mais velha de Kenji Mizoguchi foi vendida por causa
da pobreza em que sua família vivia, causando no jovem uma profunda cicatriz,
que ele deixa transparecer em sua recorrente preocupação com a função das
mulheres em sua sociedade machista. O roteiro de Yoshikata Yoda trabalha o
conceito utilizando duas irmãs inseridas na mesma realidade, mas com atitudes
totalmente diferentes com relação aos homens. Umekichi (Yoko Umemura) é uma gueixa
tradicional que aceita as limitações impostas, leal aos seus protetores,
enquanto sua irmã caçula Omocha (Isuzu Yamada) sabe tirar vantagem dos homens, por
acreditar que mereçam ser explorados, fazendo uso de traições e mentiras em
porções generosas. O discurso do cineasta não é sutil, como fica claro nos
minutos finais da obra, corajosamente feminista para sua época.
A conclusão deixa claro que as estratégias das irmãs,
radicalmente opostas (submissão/confronto), surtem o mesmo efeito trágico. As
mulheres estão sempre em desvantagem quando os termos são ditados pela
selvageria. Omocha, com seu caminhar desenvolto pela estrada da hipocrisia
humana, é uma personagem ricamente trabalhada, facilitando para que
simpatizemos com sua jornada, ainda que seu comportamento também esteja longe
de ser valoroso.
A Seguir: “Senhorita Oyu” (Oyu-Sama – 1951)
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