Saudades de Um Pracinha (G.I. Blues – 1960)
Tulsa McLean (Elvis) é um soldado cujo maior sonho é
ser dono de um "Night Club". Para conseguir o valor em dinheiro para
que ele possa abrir o seu empreendimento, ele aceita participar de uma aposta,
onde, na qual, ele deve passar uma noite com uma bailarina famosa (Juliet
Prowse) no local, porém, os dois acabam se apaixonando.
Elvis Presley havia conseguido provar aos críticos seu
talento como ator em seu filme anterior: “Balada Sangrenta” (King Creole –
1958), mas perdeu dois anos sendo domado, acorrentado ao serviço militar, longe
de seu público. Com o sucesso avassalador de “Ama-me Com Ternura” (Love Me
Tender – 1956), uma produção de baixo orçamento, os estúdios perceberam que
havia um forte potencial financeiro nos projetos direcionados aos adolescentes
americanos. Os produtores entenderam o clamor dos jovens, interessados principalmente
em retirá-los de frente da televisão, essa invenção que estava tirando o sono
dos executivos de cinema, focando toda atenção nesse cantor extremamente carismático
que os levava a assistir diversas vezes suas produções, qualquer que fosse o
nível do entretenimento em que estivesse inserido. E, pelo menos em seus
primeiros flertes com a Sétima Arte, o nível era bastante respeitável. Seus
filmes seguintes: “A Mulher Que Eu Amo” (Loving You – 1957) e “O Prisioneiro do
Rock and Roll” (Jailhouse Rock – 1957) criaram a fórmula que seria seguida por
vários produtos similares, mas sem o elemento principal. Veio então o exílio
militar e uma década posterior com mais baixos que altos.
“Saudades de Um Pracinha” era o quinto filme em sua
carreira, um retorno muito aguardado pelos fãs e curiosos, algo que motivou até
mesmo um especial televisivo onde Frank Sinatra se encarregava de dar as
boas-vindas ao pracinha roqueiro. A Paramount não poupou despesas, aceitando o
risco de que os jovens americanos já não estariam mais tão interessados no
rapaz de Tupelo, Mississippi. O produtor Hal Wallis se encarregava de filmar
algumas locações na Alemanha, enquanto Presley ainda tinha seis meses de
serviço militar pela frente. O investimento era considerável, acreditando que a
ausência do astro na mídia durante aquele longo tempo teria servido para
aumentar o mito do artista. O diretor escolhido foi o veterano Norman Taurog, que
havia sido um dos responsáveis pelo clássico “O Mágico de Oz”, além de ter
comandado comédias de Bing Crosby e da dupla Martin/Lewis, como “O Meninão” e “O
Rei do Laço”. Em entrevistas à época das filmagens, o diretor louvava a
educação do jovem e sua sensibilidade como bom ouvinte, qualidade essencial de
um bom ator. Sua relação com Elvis foi tão bacana que ele acabaria dirigindo
mais oito produções protagonizadas pelo “Rei do Rock”.
O conceito inicial previa uma comédia musical com uma trilha
sonora que abraçasse diversos gêneros, evidenciando a versatilidade de um
cantor que havia aprimorado bastante seu talento desde seus primeiros escandalosos
rebolados em rede nacional. Com impecável entrega, Elvis revisitou o rock de
Carl Perkins “Blue Suede Shoes”, a balada romântica em “Pocketful of Rainbows”, e foi da música de ninar “Big Boots” a uma versão da clássica opereta “Barcarola”
de Jacques Offenbach: “Tonight’s So Right For Love”, passando com desenvoltura por
“Wooden Heart”, baseada em uma tradicional canção folclórica alemã, além da
marchinha militar “Didja Ever”, sempre com um sorriso contagiante no rosto. É
interessante notar o gradativo desinteresse do astro ao longo de sua década em
Hollywood, especialmente após 1965, onde era cada vez mais raro perceber
alegria genuína em suas atuações.
O filme foi um sucesso de bilheteria, tendo recebido
críticas favoráveis e até uma importante indicação ao “Writers Guild of America”,
como “Melhor Roteiro de Musical”, além da indicação ao Grammy como “Melhor Trilha
Sonora”. A parceria em cena com a bela dançarina Juliet Prowse pode ser
considerada apenas um degrau abaixo da química que ele alcançaria anos depois
com Ann-Margret em “Amor a Toda Velocidade” (Viva Las Vegas – 1964). Era
indiscutível que aquele garoto rebelde que havia revolucionado o mundo com sua
música havia se tornado um adulto sofisticado, um genro que toda mãe gostaria
de ter. Mas essa constatação não diminui o brilho de seu carisma em cena, capaz
de “carregar nas costas” uma produção. Como ator, Elvis estava em sua melhor
fase, que completaria nos seguintes dramas “Estrela de Fogo” (Flaming Star –
1960) e “Coração Rebelde” (Wild in the Country – 1961), ambos para os estúdios
Fox. Infelizmente, graças em grande parte à ambição desenfreada de seu empresário
Coronel Parker, ele nunca mais encontraria papéis desafiadores, tendo que
assistir o lento minguar de seus sonhos como astro de cinema.
Claro que nada disso importava para o garoto que voltava
correndo da escola para assistir o filme na “Sessão da Tarde”, tentando imitar
as danças enquanto devorava um saquinho das “Balas Boneco”. Anos mais tarde,
consigo recordar a emoção que senti ao me surpreender com ele sendo exibido num
“Corujão” de Sexta para Sábado. Já não existiam mais as “Balas Boneco”, mas a
lembrança do sabor ainda me causava água na boca. Bons tempos em que a Rede
Globo valorizava Elvis Presley, com generosa exibição de seus filmes, não
Justin Bieber.
Adorei, acho que é a primeira vez que vejo você falar assim do Rei do Rock, amei ficou lindo. No decorrer da leitura me remeti ao passado e consegui ver como eu agia naquele tempo ao assistir aos filmes. Agradeço por me fazer feliz.
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