Qual a função do escapismo? Fazer-nos crer que é possível
voar, saltar prédios com um simples impulso, atravessar paredes com o poder da
mente e entrar sozinho nas selvas vietnamitas com uma metralhadora, vencendo
uma guerra. O que ocorre quando inserimos neste contexto o criminoso “politicamente
correto”? Destruímos o necessário escapismo, formando jovens que, sem válvulas
de escape criativas, irão buscar maneiras de extravasar a violência (inerente
ao ser humano, que ao invés de negá-la deve discipliná-la). Ao contrário do que
muitos mal-intencionados discursam, o crescimento do nefasto “politicamente
correto” irá legar ao futuro pessoas muito mais violentas, pois sem nunca terem
pisado descalças o chão arenoso da vida, perceberão um dia estarem
completamente despreparadas para tal.
A razão que me faz abordar este tema nasceu da triste
contemplação dos mecanismos que regem a programação da TV aberta. Cresci
assistindo ótimos filmes de ação (como “Rambo” e “Comando para Matar”) na “Sessão
da Tarde” global, os clássicos do horror (como “Fome Animal” e “Re-Animator”)
no “Cine Trash” (apresentado pelo “Zé do Caixão”) da Band, aquelas comédias
sensuais (“O Último Americano Virgem”, “Loverboy” e “Primavera na Pele”) que
passavam no “Cinema em Casa” do SBT. Hoje em dia nossos pré-adolescentes são
servidos com uma seleção digna daqueles assépticos e apocalípticos contos de
Ray Bradbury, onde a sociedade do futuro mostra-se regida por incompetentes,
para a criação de uma geração inapta, incapaz de contra-argumentar os desmandos
de seus comandantes. Somos como uma variação de Alex De Large (de “Laranja
Mecânica”), que exposto a uma programação extremamente violenta e incapaz de
parar de assistir, pois lhe é negado fechar os olhos, passa a associar as
ações violentas com a dor que provocam. Este tratamento torna-o
incapaz de realizar qualquer ato violento, nem mesmo em defesa própria,
tornando-se um “zumbi” manipulável e fraco. Diferente da genial criação de
Anthony Burgess, nós estamos sendo diariamente expostos a uma programação
ilusoriamente inofensiva, que elimina qualquer senso criativo (pois não oferece
o “bem” e o “mal”, tornando impossível diferenciá-los), que formará em longo
prazo uma sociedade perigosamente frágil.
Atendo-me a um exemplo muito simples, pensem em um daqueles
sacos de areia que os pugilistas usam em seus treinos. Imaginem-se no mais
revoltante acesso de fúria, naquele dia em que tudo deu errado. Caso você
tenha à sua frente um destes sacos de areia, o que você faria? Descarregaria
toda sua raiva nele, assim como muitos adolescentes em seus videogames, jogando
“Street Fighter”, e depois de alguns minutos estaria tranquilo e pronto para o
próximo “round” da vida. Sem este “saco de areia”, a pessoa acaba brigando com
seus parentes, “chutando seu cachorro” e xingando os motoristas no trânsito.
Eliminar algo que é natural no ser humano, acaba por acentuar
exatamente o que se deseja destruir. Retire do adolescente todas as formas de escapismo (videogames,
filmes, livros, músicas etc.) e você estará formando um adulto violento (pois o
sentimento brota da pior forma: após décadas sendo negado) e psicologicamente
fraco.
Lutem contra o politicamente correto, não permitam que seus
filhos sejam manipulados no futuro. Quem se favorece com este panorama
vergonhoso? Aqueles que vendem valores simplistas, como as religiões, onde não
existem “tons de cinza”, somente “Deus” e o “Diabo”. Caso sigamos desta
maneira, continuaremos sendo um país rico em igrejas evangélicas, políticos corruptos
e analfabetos funcionais. Uma nação onde não formamos cientistas ou
incentivamos o incessante questionamento. Uma pátria vergonhosamente sem
um prêmio Nobel. Portugal tem quatro, a Alemanha tem 102, o Reino Unido tem
116 e os Estados Unidos têm 331. Na América Latina, a Guatemala, Costa Rica,
Colômbia e Peru já receberam. O Chile tem dois. O México tem três. Argentina
tem dois da Paz, um de Medicina e um de Química. Investimos menos em
saúde que a média dos países africanos. Vocês realmente acreditam que um
governo que trata com desleixo a saúde e a educação, realmente se preocupa com
o que seus filhos estão assistindo na televisão? Acorde, preguiçoso povo
brasileiro. Estão preparando o gado para o abate e vocês nem percebem. Viva o politicamente
incorreto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário