Que mundo medíocre este em que vivemos, mundo em que se acredita que
todos são substituíveis. Refilmagens que abordam diferentes aspectos de seus
originais são válidas, mas o que anda acontecendo em Hollywood é, com o perdão da expressão, um estupro
intelectual. A razão do meu pequeno desabafo é a refilmagem “Arthur – O
Milionário Irresistível”, que em seu lançamento obteve internacionalmente acachapantes críticas
negativas. Como puderam cometer esta atrocidade? Substituir Dudley Moore, John
Gielgud e Liza Minnelli por um inadequado Russel Brand, uma deslocada Helen
Mirren e uma insossa Greta Gerwig? A elegante e atemporal trilha de Burt
Bacharach foi substituída por um arremedo de composições artificiais e sem
nenhum refinamento.
“Arthur – O Milionário Sedutor” (Arthur – 1981) deveria estar sendo relançado
nos cinemas, para que os jovens de hoje tivessem contato com o incrível artista
que foi Dudley Moore. Provavelmente esta geração que se alimenta desses
“McLanches Felizes”, que Hollywood requenta, embala e vende como se fossem algo
de valor, nem devem ter ouvido falar dele, preocupados que estão em repercutir
as polêmicas midiáticas do dia (logo esquecidas, assim que outra é iniciada),
não sobra tempo para olharem para trás e vislumbrarem o início da estrada.
Apenas interessam as curvas à frente, talvez por isso ocorram tantos
acidentes... Mas a analogia pode me levar a perder o foco do desabafo,
voltemos a ele.
Dudley era um baixinho com fama de mulherengo e que amava tocar piano. Compunha
com a mesma leveza com que atuava, como se o fizesse desde o berço. Em seus
concertos, costumava descontrair o público com versões bem humoradas de seus
clássicos favoritos, mas levava muito a sério este dom. Seu carisma em cena
era notável, contagiante, encontrando seu apogeu criativo na figura do beberrão
Arthur Bach, um milionário mimado que busca encontrar o amor verdadeiro. No
início da década de noventa, idealizou um projeto televisivo (“Concerto!”) que
ambicionava a aproximação passional entre o grande público e a música clássica.
Problemas decorrentes de um problema neurológico, paralisia supranuclear
progressiva, o levaram a perder gradualmente sua coordenação motora, tornando-o
incapaz de realizar sua maior paixão: O piano. Faleceu aos sessenta e seis anos, em 2002, injustamente esquecido pelo grande público.
Quem é Russel Brand? Pesquisando encontrei as seguintes informações: Ele ficou
conhecido após apresentar um spin-off do programa “Big Brother”, entre
participações em filmes “marcantes” como “Ressaca de Amor” e “O Pior Trabalho
do Mundo”. Descreve-se como “um Willy Wonka sadomasoquista” e causou algumas
controvérsias nos meios de comunicação britânicos (hoje em dia é moda e todo
mundo acha bonito), que o levaram a ser demitido da rede BBC. Ah... Ele também
foi casado com a cantora pop artificialmente fabricada Katy Perry.
Para retirar o gosto amargo da desesperança, irei rever “Arthur – O Milionário
Sedutor” e sei que irei me emocionar novamente no diálogo final entre Moore e
Gielgud. Escutarei a bela “The best that you can do” enquanto o mundo parece
revirar-se de cabeça para baixo, ela será a trilha sonora perfeita para este
futuro apocalíptico que se faz notar no horizonte... Que venham as refilmagens
de “E o Vento Levou”, “Casablanca”... Nada mais é sagrado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário