quinta-feira, 6 de março de 2014

Como pudemos nos esquecer de Dudley Moore?


Que mundo medíocre este em que vivemos, mundo em que se acredita que todos são substituíveis. Refilmagens que abordam diferentes aspectos de seus originais são válidas, mas o que anda acontecendo em Hollywood é, com o perdão da expressão, um estupro intelectual. A razão do meu pequeno desabafo é a refilmagem “Arthur – O Milionário Irresistível”, que em seu lançamento obteve internacionalmente acachapantes críticas negativas. Como puderam cometer esta atrocidade? Substituir Dudley Moore, John Gielgud e Liza Minnelli por um inadequado Russel Brand, uma deslocada Helen Mirren e uma insossa Greta Gerwig? A elegante e atemporal trilha de Burt Bacharach foi substituída por um arremedo de composições artificiais e sem nenhum refinamento.

Arthur – O Milionário Sedutor” (Arthur – 1981) deveria estar sendo relançado nos cinemas, para que os jovens de hoje tivessem contato com o incrível artista que foi Dudley Moore. Provavelmente esta geração que se alimenta desses “McLanches Felizes”, que Hollywood requenta, embala e vende como se fossem algo de valor, nem devem ter ouvido falar dele, preocupados que estão em repercutir as polêmicas midiáticas do dia (logo esquecidas, assim que outra é iniciada), não sobra tempo para olharem para trás e vislumbrarem o início da estrada. Apenas interessam as curvas à frente, talvez por isso ocorram tantos acidentes... Mas a analogia pode me levar a perder o foco do desabafo, voltemos a ele.

Dudley era um baixinho com fama de mulherengo e que amava tocar piano. Compunha com a mesma leveza com que atuava, como se o fizesse desde o berço. Em seus concertos, costumava descontrair o público com versões bem humoradas de seus clássicos favoritos, mas levava muito a sério este dom. Seu carisma em cena era notável, contagiante, encontrando seu apogeu criativo na figura do beberrão Arthur Bach, um milionário mimado que busca encontrar o amor verdadeiro. No início da década de noventa, idealizou um projeto televisivo (“Concerto!”) que ambicionava a aproximação passional entre o grande público e a música clássica. Problemas decorrentes de um problema neurológico, paralisia supranuclear progressiva, o levaram a perder gradualmente sua coordenação motora, tornando-o incapaz de realizar sua maior paixão: O piano. Faleceu aos sessenta e seis anos, em 2002, injustamente esquecido pelo grande público.

Quem é Russel Brand? Pesquisando encontrei as seguintes informações: Ele ficou conhecido após apresentar um spin-off  do programa “Big Brother”, entre participações em filmes “marcantes” como “Ressaca de Amor” e “O Pior Trabalho do Mundo”. Descreve-se como “um Willy Wonka sadomasoquista” e causou algumas controvérsias nos meios de comunicação britânicos (hoje em dia é moda e todo mundo acha bonito), que o levaram a ser demitido da rede BBC. Ah... Ele também foi casado com a cantora pop artificialmente fabricada Katy Perry.

Para retirar o gosto amargo da desesperança, irei rever “Arthur – O Milionário Sedutor” e sei que irei me emocionar novamente no diálogo final entre Moore e Gielgud. Escutarei a bela “The best that you can do” enquanto o mundo parece revirar-se de cabeça para baixo, ela será a trilha sonora perfeita para este futuro apocalíptico que se faz notar no horizonte... Que venham as refilmagens de “E o Vento Levou”, “Casablanca”... Nada mais é sagrado.

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