Link para os textos do especial:
Psicose 2 (Psycho 2 – 1983)
Psicose 3 (Psycho 3 – 1986)
O segundo tem sua parcela de fãs, o que, sinceramente, não
consigo compreender. Ele pode até funcionar medianamente enquanto suspense,
mas, com a revelação bombástica do terceiro ato, onde Norman Bates descobre que
sua mãe no original não era a sua verdadeira mãe, convenhamos, sem exagero, o
roteiro cospe na cara de Alfred Hitchcock e do autor Robert Bloch, que havia
escrito uma excelente continuação, que não foi aproveitada na trama, uma
crítica bem-humorada ao cinema de terror comodista que os norte-americanos
realizavam no período.
O livro era uma tirada de sarro com a indústria, uma espécie
de gozação com a necessidade mercadológica de lucrar com um projeto tão
desnecessário quanto aquela refilmagem posterior comandada por Gus Van Sant. Já
o filme, ainda que seja protagonizado por Anthony Perkins e uma encantadora Meg
Tilly, esquece praticamente tudo o que foi estabelecido sobre o personagem no
original. Ao invés do suspense e do uso da sugestão, o diretor Richard
Franklin, filmando às pressas, transforma o protagonista, tridimensional no
clássico e unidimensional nessa releitura, em uma atração interessante para o
público jovem que vibrava com as mortes perpetradas por Jason Voorhees. O
assassino perturbado vira um gentil candidato a funcionário do mês numa
lanchonete, uma ideia que, por si só, já é um atentado à suspensão de
descrença. A relação dele com a bela colega de trabalho, uma jovem que, na
realidade, tinha a intenção de facilitar o caminho dele de volta para a
insanidade, é tão inverossímil quanto os termos de sua liberação da
penitenciária. Ela, em questão de dias, simpatiza com o colega e, num ato de
incrível ingenuidade, começa a extravasar seus instintos maternos com ele.
O terceiro, terrivelmente mal dirigido por Perkins,
retomaria, sem sutileza, algumas características de Bates, como o apreço pela
taxidermia, porém, na maior parte do tempo, parece mais preocupado em proporcionar
momentos de nudez gratuita. Uma cena, em especial, abusa do exploitation,
quando uma jovem vítima tira o blusão na cabine telefônica, sem motivo algum,
antes de ser esfaqueada. E, para reforçar o impacto, a cena insere um gore
tolo, com ela pisando em cacos de vidro. Vale salientar que o mestre Hitchcock,
no original, criou a cena imortal do banheiro, impactante até hoje, sem mostrar
o facão penetrando o corpo de Janet Leigh. E, falando nela, acho bizarra a
subtrama da freira fugitiva, que acaba atravessando o caminho de Norman, que
fica obcecado por ela, já que é loira, com o mesmo corte de cabelo de Marion Crane,
e, numa forçada de barra espetacular, tem as mesmas iniciais do nome: Maureen
Coyle. O roteiro nos conduz a um final que, ouso dizer, está entre os mais
toscos já imaginados no gênero. Nada é mais constrangedor do que ver um ótimo
ator como Perkins, símbolo da era de ouro do cinema, acarinhando o braço
decepado de sua mãe, enquanto repete aquele sorriso sombrio da cena final do
filme original. É, literalmente, fim de carreira.
Os dois filmes são horríveis, indefensáveis, mas, por uma
estranha razão, paro para assistir quando estão passando na televisão. O
terceiro é praticamente uma comédia involuntária. A cena final do segundo, com
Bates metendo uma pazada na cabeça da velhinha, é o único momento genuinamente
interessante dos dois filmes. O ator chegou a retomar o personagem em uma sofrível
quarta produção: “Psicose 4 – A Revelação”, provando que não tinha o menor
senso crítico.
🌟🌟🌟🌟🌟 Excelente !!!!!
ResponderExcluir