Aliança do Crime (Black Mass - 2015)
Um dos problemas principais do filme, sua estrutura
convencional, altamente dependente de cenas expositivas, guiada por
interrogatórios que conduzem a flashbacks, é temperada, de vez em sempre, por
uma imersão no padrão do mafioso estereotipado estabelecido pelo “Os Bons
Companheiros”, de Scorsese. Aquela agressividade exagerada no tom dos diálogos,
até mesmo pra perguntar as horas, sem o cuidadoso estudo de personagem do já
citado mestre, acaba potencializando apenas os aspectos caricaturais, algo
péssimo em uma trama baseada em eventos reais.
Johnny Depp é um ator esforçado, tem grande carisma, mas, desta feita, parece
estar emulando, entonação de voz e maneirismos, aquela fúria contida de Jack
Nicholson. As próteses no rosto, a careca, a maquiagem que deveria ser
absorvida pela credibilidade da atuação, acaba se destacando nas cenas, uma
distração que minimiza o impacto de várias sequências importantes. O cérebro
segue consciente de que estamos vendo o ator em uma festa à fantasia. E, em
dado momento, ainda no início do filme, por volta dos vinte minutos, o roteiro,
de Mark Mallouk e Jez Butterworth, demonstra outro problema crasso, a falta de
coragem. Vemos o Depp maquiado com o filho pequeno e a esposa, na mesa do café
da manhã. O menino diz que estava sofrendo bullying e, pra se defender,
esmurrou um coleguinha. Depp diz algo como: “Muito bem, filhão”, o que leva a
esposa a reclamar. Cena típica de sitcom, com fotografia típica de sitcom. O
protagonista então, por um generoso tempo, passa um sermão, indicando ao menino
o real problema: O ruim não é a agressão, mas, sim, a agressão na frente de
outras pessoas. A esposa, com a leveza de uma coadjuvante de “Friends”,
responde: “Olha, acho que essa não é a melhor forma de se educar uma criança”.
Por vários minutos, achei que estava no sofá de casa vendo um comercial de
margarina na televisão. Ela é a esposa de um assassino, um mafioso, não há credibilidade
alguma na forma como o roteiro, com mão pesada, conduz esse momento intimista
do casal, que se estende por muito mais tempo do que deveria. Quando você se
revira na poltrona, olha para o relógio e constata surpreso que se passaram
apenas trinta minutos, sem sentir o menor interesse em acompanhar o desenrolar
da história daqueles personagens, você percebe que o filme tem sérios
problemas.
Como recomendação, para aqueles que realmente se interessem em conhecer melhor
a história do gângster Whitey Bulger, sugiro o documentário: Whitey: United
States of America v. James J. Bulger, do ano passado, dirigido por Joe
Berlinger. O diretor Scott Cooper faz o que pode com o fraco material à
disposição, mas, apesar de todo o lobby que já se faz para o filme no Oscar,
“Aliança do Crime” é muito pouco inspirado, com um ritmo moroso, coadjuvantes
sem brilho, e salvo, na maior parte das vezes, pelo carisma do protagonista.
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