Hellraiser – Renascido do Inferno (Hellraiser - 1987)
Em sua casa londrina, Frank Cotton manipula um quebra-cabeça
que, segundo uma lenda, traria a quem o desvendasse eternos e desconhecidos
prazeres sexuais. Em vez disso, ele se torna presa dos cenobitas, criaturas
sobrenaturais que extraem sua força da tortura e do sofrimento alheio.
Hellraiser 2 – Renascido das Trevas (Hellbound: Hellraiser 2
– 1988)
O doutor Channard passou toda uma vida estudando os segredos
da caixa enigmática que abre as portas do inferno do prazer e da dor. Ele está
disposto a conhecer o reino do sadomasoquismo, mas algo muito pior o
espera.
Hellraiser 3 – Inferno na Terra (Hellraiser 3: Hell On Earth
– 1992)
A caixa agora cai nas mãos de um dono de boate que
acidentalmente liberta pinhead, o mestre da dor e do prazer. A criatura das
trevas lhe promete todos os prazeres desejados desde que sacrifique seres
humanos num altar.
Imagine a cara da atendente da locadora, ao ver um menino de
sete anos discutindo com o pai, para que ele alugasse pela vigésima vez um
filme sobre cenobitas do inferno, prazer e dor, em suma: Clive Barker. Eu
adorava tanto “Hellraiser”, que uma vez cheguei a pedir de presente de Natal um
daqueles cubos. E, em uma época onde souvenires geeks eram inexistentes, ter um
cubo de Lemarchand na estante era tarefa impossível. Eu me lembro de ficar numa
felicidade extrema ao encontrar na banca de jornal uma revista em quadrinhos
com o Pinhead na capa, uma publicação da Editora Abril Jovem que durou pouco
tempo. Comprei na hora, para espanto do jornaleiro. Qualquer cena que insinuasse
a presença do Frank, o "homem sem pele", como eu chamava na época,
dentro do quarto escuro, já me deixava completamente apavorado.
Terror foi o meu gênero de formação, presença marcante
durante grande parte da minha infância e pré-adolescência. Estudava sobre suas
variadas vertentes e andava para todo lado com um ótimo “Guia de Vídeo –
Terror”, lançado pela Editora Escala, que guardo até hoje com carinho. Perdi a
conta de quantas vezes eu lia aquele guia, que utilizava frequentemente em
minhas garimpagens nas locadoras da região. E, sendo um apaixonado por
trilhas sonoras de cinema, aplaudo de pé o trabalho do compositor Christopher Young
nos dois primeiros filmes, em especial as faixas “Hellraiser”, “Ressurrection”,
“Seduction and Pursuit” e “The Cenobites”, do primeiro, e “Hellbound”, “Something
to Think About”, “Leviathan” e “Headless Wizard”, do segundo.
O período era dominado pela infantilização dos slashers.
Jason havia acabado de ressuscitar com uma descarga elétrica, Freddy havia se
tornado o Bob Hope do inferno, combatendo jovens superpoderosos nos sonhos. O
grande diferencial do cenobita vivido por Doug Bradley era a profundidade
filosófica de sua ameaça, que ia muito além do fator visual. O clima, mérito da
fotografia de Robin Vidgeon, transmitia um horror quase tangível, adaptando com
brilhantismo a essência lovecraftiana dos primeiros capítulos do livro. Até
mesmo a figura da personagem feminina que combate o assassino, elemento convencional
no gênero, ganhava em credibilidade com a presença de Kirsty, vivida por Ashley
Laurence, longe do estereótipo frágil de vítima. Ela confronta também a
madrasta Julia, vivida por Claire Higgins, uma mulher capaz de tudo para
reviver sua paixão de outrora.
O segundo filme, com maior orçamento e sem o envolvimento do
criador, potencializa o gore, porém, comete o equívoco de repetir o enredo do
primeiro. Toda a subtrama de Frank, que busca se nutrir dos humanos para
ressurgir, acaba se tornando a função de Julia, sendo ajudada pelo Dr. Channard.
Quando somos conduzidos ao inferno, no segundo ato, o filme ganha fôlego.
Visualmente, é impecável, com cenobitas ainda mais criativos, sendo explorados
com maior interesse. Não acredito que a revelação de suas origens ajude a obra,
já que o mistério, a ignorância, é sempre muito mais apavorante. Ao optar por
expandir a mitologia, a produção cavou o túmulo de mediocridade que se tornou a
franquia.
No terceiro filme, uma superprodução barulhenta e sem a audácia dos
anteriores, o diretor Anthony Hickox prova que uma verba generosa não diz nada
sobre a qualidade do produto final. Pinhead acaba se tornando a sua própria
antítese, um assassino típico do slasher, com direito até a algumas piadinhas. Os
cenobitas atacam agora na cidade grande, com direito a explosões e
enquadramentos que remetem aos filmes da franquia: “Duro de Matar”. A única
cena que sugere o brilhantismo corajoso do original se passa em uma igreja, com
Pinhead retirando os pregos de sua cabeça e cravando eles nas palmas de suas
mãos.
A franquia pode causar vergonha alheia, o mais recente: “Hellraiser
– Revelações”, de 2011, é das piores coisas que já vi no gênero. Mas o original
continua eficiente, uma obra-prima incontestável.
Muito legal o texto, Octavio :) Gosto do primeiro filme, apesar de achar ele bem datado visualmente, acho que é forte no roteiro. Adorei a história original tbm, do livro que você cita.
ResponderExcluirE só um comentário: também prefiro a parte sobre o inferno no 2. :P
Bjs!