Nesse primeiro longa-metragem, o diretor Laurent Larivière
aborda essencialmente os efeitos da ausência do sentimento de culpa, um dos
aspectos típicos de um caráter com sérios problemas estruturais. O problema é
que essa interessante abordagem, assim como a tentativa de crítica social,
evidenciada em uma boa cena de entrevista de emprego, fica apenas na teoria.
A
jovem vivida por Louise Bourgoin, em um ato impulsivo motivado pela vergonha
que sente por estar desempregada, valorização exacerbada pela opinião do outro,
acaba aceitando trabalhar no canil de um tio, que, na realidade, é fachada para
um centro de tráfico de cães. Sem interesse pelo investimento emocional do público, o roteiro não se
aprofunda nas motivações dos personagens e evita qualquer insinuação de
melodrama, os animais são tratados com a mesma frieza de seus traficantes, o
que, sem dúvida, é o maior acerto do filme. A protagonista, sem muito peso na
consciência, entra de cabeça no negócio, com a obstinação inconsequente de um
Tony Montana, desejando tomar o controle da operação.
Sem um mínimo de
desenvolvimento psicológico, fica difícil se importar com as ações dela,
fazendo algumas cenas soarem forçadas, especialmente uma equivocada subtrama
romântica que desperta convenientemente no terceiro ato. O fato de ser uma
jovem inteligente, bonita e saudável, contribui para a pouca credibilidade de
suas radicais ações, que, tampouco funcionam de forma metafórica. Uma ideia
promissora confinada em uma execução sem brilho.
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