Quanto Mais, Melhor (The More The Merrier – 1943)
Washington. Durante a 2ª Guerra Mundial uma jovem, Connie
Milligan (Jean Arthur), aluga metade da sua casa para Benjamin Dingle (Charles
Coburn), um amável senhor. Ele por sua vez aluga metade da sua parte para Joe
Carter (Joel McCrea), um sargento da força aérea.
Que deliciosa screwball comedy, também conhecida pelo esquisito
título “Original Pecado”, uma das minhas favoritas, protagonizada pela bela
Jean Arthur, dirigida por um dos maiores diretores americanos: George Stevens.
É perceptível a influência de Lubitsch na coreografia das cenas, que não funcionariam
sem a química perfeita entre Arthur, Joel McCrea e Charles Coburn. O roteiro consegue
construir uma farsa adorável em um contexto de miséria, com a necessidade de
acomodar a superpopulação causada pela movimentação da guerra. O cinema tinha o
papel de, nesse período turbulento, onde o povo inseguro convivia com o medo,
assegurar que tudo iria acabar bem, levantar a moral dos soldados e dos civis.
As mulheres estavam buscando empregos, o que conduz a uma
das cenas mais engraçadas do primeiro ato, quando uma fila de funcionárias, que
aguardavam bater o ponto no serviço, flertam descaradamente com o único homem
presente. Agindo da mesma forma deselegante que os homens, com assobios e
cantadas clichê, elas se transformam nas predadoras diante do objeto sexual. E,
numa ousadia maior, rindo na cara da censura do “Código Hays”, o filme antecipa
“Confidências à Meia-Noite”, clássico de Doris Day e Rock Hudson, inserindo, num
truque visual, a imagem do casal na cama, divididos por uma fina parede. Como
esquecer o erotismo latente na cena de sedução na escada, com Joel tentando, de
todas as formas, tocar Jean, enquanto ela se esquiva? Um momento totalmente
improvisado, como o ator afirmou em um documentário sobre o diretor. Outra cena
que adoro: o casal sentado e, por incrível que pareça, dançando rumba, fingindo
que não se conhecem, enquanto o noivo dela é entretido pelo personagem vivido
por Coburn.
O filme ganha pontos por evitar o sentimentalismo, mantendo
do início ao fim um leve tom de cinismo, o que, invariavelmente, potencializa os
momentos dramáticos. Tente não se encantar com a forma com que Arthur quebra a
quarta parede na cena da primeira noite em que divide o apartamento. Ela está
particularmente sedutora na cena do topo do edifício, que mais parece um clube,
em que os seus colegas se divertem lendo em voz alta os quadrinhos de Dick
Tracy. “Quanto Mais, Melhor” é uma joia que merece ser apreciada com atenção
redobrada.
* O filme está sendo lançado em DVD pela distribuidora "Classicline".
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