domingo, 19 de abril de 2015

Cine Noir - "Amarga Esperança"


Amarga Esperança (They Live By Night – 1949)
Nos anos 30, o jovem Bowie e outros dois comparsas fogem de uma prisão no Mississipi. Bowie sonha em fugir com sua namorada e ter uma vida tranquila. Mas é convencido pelos companheiros a continuar no crime. E a polícia está em seu encalço.


Essa primeira produção de Nicholas Ray era considerada por François Truffaut como a melhor em sua filmografia. Já demonstrando sua empatia pelos rejeitados, que seria tema recorrente em sua carreira, o diretor abraça o jovem casal, Farley Granger e Cathy O´Donnell, que foge da lei, enquanto busca um recomeço. O filme inspirou, entre outros, “Bonnie e Clyde”, de Arthur Penn, “Terra de Ninguém”, de Terrence Malick, e “Assassinos por Natureza”, de Oliver Stone, porém, sua despretensão o coloca em um patamar superior.

Os jovens compartilham a ausência das figuras de autoridade. Suas mães fugiram com amantes. O jovem viu o pai sendo assassinado na sua frente, enquanto o pai da garota é vítima do alcoolismo, sendo motivo de deboche por onde passa. O amor entre os dois parece nascer, não da empatia entre eles, muito pelo contrário, fica bem claro que eles não possuem muito em comum, mas da carência compartilhada. Inexperientes e emocionalmente frágeis, assistem a vida por uma lente de ingenuidade, que o diretor capta perfeitamente. Bowie (Granger) acredita que sairá ileso da situação espinhosa em que se meteu, enquanto Keechie (O´Donnell) se compara a um cão fiel que não irá se afastar de seu dono, mesmo em sua ausência, demonstrando nessa analogia sua completa passividade.

A cena que representa a genialidade do diretor ocorre quando o casal intenciona se casar. A forma como os diálogos são conduzidos, com a desconstrução do ritual, colocando em evidência sua fragilidade, na pequena capela. Eles decidem apenas pelo básico, o texto padrão e sem música, mas precisam pagar a gorjeta dos dois desconhecidos que servem como testemunhas. Ao final, o dono do estabelecimento conclui que mantém seu serviço porque aquele ritual faz as pessoas felizes, concede-lhes alguma esperança, como ele afirma: “De certa forma, sou um ladrão exatamente como você”.

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