A Vida de Émile Zola (The Life of Emile Zola – 1937)
O escritor francês foi o precursor da literatura naturalista, e do teatro naturalista, que buscava quebrar os moldes cristalizados após
décadas de tradição acadêmica, abordando sem floreios a realidade e a
degradação, algo que chocava grande parcela da sociedade de sua época. Ele
utilizava seu talento para defender as causas em que acreditava e que pareciam
perdidas, como o famoso caso evolvendo o Capitão Dreyfus. Incriminado
injustamente por seus superiores, por ser judeu, que encobriam a participação
de outro oficial em um ato de traição, foi levado prisioneiro para a temida
Ilha do Diabo na Guiana Francesa. Arriscando sua carreira, Zola escreveu em
1898 um texto chamado “Eu Acuso...”, uma carta para o presidente da república,
onde denunciava claramente a ligação dos oficiais da armada francesa no
embuste, emoldurando a página principal do jornal mais lido de Paris. O
“Caso Dreyfus” teve um final feliz, mas o escritor sofreu punição por sua
atitude, sendo levado em julgamento. Fugiu para a Inglaterra e faleceu em 1902,
intoxicado acidentalmente com vazamento de monóxido de carbono em sua casa.
Vencedor do Oscar de Melhor Filme, o projeto possui o mérito
de ser talvez o menos pretensioso de todos os que foram celebrados nesse
período de ouro da premiação. Como o personagem, vivido por Paul Muni, não
manteve sua popularidade com o passar das décadas, a obra acabou sendo
esquecida, figurando normalmente como uma curiosidade de sua época, lembrada
graças aos prêmios que recebeu. Esse é um panorama triste, pois o homenageado e
sua minimalista cinebiografia deveriam ser abraçados pelos jovens de hoje. Sua
primeira hora é dedicada a apresentar o protagonista, porém falha ao desenhar
uma caricatura com traços rápidos, onde a própria passagem de tempo é fracamente estruturada. Já o segundo ato é brilhante ao retratar a participação do
personagem no “Caso Dreyfus”, com o competente diretor William Dieterle
demonstrando a mesma sensibilidade de quando conduziu “A Vida de Louis
Pasteur”, no ano anterior. O roteiro mantém-se atual, mostrando que um homem
pode combater um sistema corrupto e a justiça ser feita, mesmo que a batalha
seja árdua e longa. Joseph Schildkraut (Alfred Dreyfus) recebeu um
Oscar de coadjuvante por sua correta atuação, explorando o contido desespero de
um homem íntegro sendo utilizado como peão de interesses escusos. Dieterle foi
indicado ao prêmio pela única vez em sua carreira, mas perdeu para Leo McCarey,
por “Cupido é Moleque Teimoso” (The Awful Truth).
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