domingo, 19 de abril de 2015

"A Vida de Émile Zola", de William Dieterle


A Vida de Émile Zola (The Life of Emile Zola – 1937)
O escritor francês foi o precursor da literatura naturalista, e do teatro naturalista, que buscava quebrar os moldes cristalizados após décadas de tradição acadêmica, abordando sem floreios a realidade e a degradação, algo que chocava grande parcela da sociedade de sua época. Ele utilizava seu talento para defender as causas em que acreditava e que pareciam perdidas, como o famoso caso evolvendo o Capitão Dreyfus. Incriminado injustamente por seus superiores, por ser judeu, que encobriam a participação de outro oficial em um ato de traição, foi levado prisioneiro para a temida Ilha do Diabo na Guiana Francesa. Arriscando sua carreira, Zola escreveu em 1898 um texto chamado “Eu Acuso...”, uma carta para o presidente da república, onde denunciava claramente a ligação dos oficiais da armada francesa no embuste, emoldurando a página principal do jornal mais lido de Paris.  O “Caso Dreyfus” teve um final feliz, mas o escritor sofreu punição por sua atitude, sendo levado em julgamento. Fugiu para a Inglaterra e faleceu em 1902, intoxicado acidentalmente com vazamento de monóxido de carbono em sua casa.

Vencedor do Oscar de Melhor Filme, o projeto possui o mérito de ser talvez o menos pretensioso de todos os que foram celebrados nesse período de ouro da premiação. Como o personagem, vivido por Paul Muni, não manteve sua popularidade com o passar das décadas, a obra acabou sendo esquecida, figurando normalmente como uma curiosidade de sua época, lembrada graças aos prêmios que recebeu. Esse é um panorama triste, pois o homenageado e sua minimalista cinebiografia deveriam ser abraçados pelos jovens de hoje. Sua primeira hora é dedicada a apresentar o protagonista, porém falha ao desenhar uma caricatura com traços rápidos, onde a própria passagem de tempo é fracamente estruturada. Já o segundo ato é brilhante ao retratar a participação do personagem no “Caso Dreyfus”, com o competente diretor William Dieterle demonstrando a mesma sensibilidade de quando conduziu “A Vida de Louis Pasteur”, no ano anterior. O roteiro mantém-se atual, mostrando que um homem pode combater um sistema corrupto e a justiça ser feita, mesmo que a batalha seja árdua e longa. Joseph Schildkraut (Alfred Dreyfus) recebeu um Oscar de coadjuvante por sua correta atuação, explorando o contido desespero de um homem íntegro sendo utilizado como peão de interesses escusos. Dieterle foi indicado ao prêmio pela única vez em sua carreira, mas perdeu para Leo McCarey, por “Cupido é Moleque Teimoso” (The Awful Truth).

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