O Prisioneiro da Ilha dos Tubarões (The Prisoner of Shark
Island – 1936)
Samuel Mudd, vivido por Warner Baxter, fazia juras de amor à sua amada
esposa em uma noite tranquila, quando um homem ferido aparece à sua porta lhe
pedindo ajuda. Ele não sabia que se tratava do famoso ator John Wilkes Booth,
que havia acabado de assassinar o presidente Abraham Lincoln. Após entregar um
generoso pagamento de cinquenta dólares ao médico, que lhe havia cobrado apenas
dois dólares, o assassino continua sua jornada. O roteiro nos mostra, desde o
princípio, que o protagonista possui um caráter íntegro, pois deixa claro que
ele iria devolver o dinheiro, que considerava ter-lhe sido entregue por
descuido, no momento em que batem à sua porta pela segunda vez. Sua esposa, vivida
por Gloria Stuart, que viria a se tornar a versão adulta de Rose em “Titanic”, chega a brincar com ele: “Foi bom enquanto durou”. Na vida real, Samuel Mudd
não era tão íntegro, realmente estava envolvido com Booth e o conhecia
bem. Pode-se dizer que John Ford e o roteirista/produtor Nunnally Johnson, de
“Vinhas da Ira”, agem como advogados de defesa de um réu culpado. A trama
continua exercendo fascínio com uma noção perfeita de ritmo, levando-nos a nos
importar pelo protagonista, que é condenado à prisão perpétua na Ilha dos
Tubarões por ter auxiliado o assassino. Existe a preocupação de mostrá-lo como antiescravagista,
fazendo com que um de seus escravos ajude-o, de uma forma inverossímil, mas
narrativamente eficiente, em sua batalha por liberdade. Evento que não ocorreu
na vida real, mas que funciona de forma impecável no filme. O desfecho é
brilhante e, ainda hoje, mantém o público à beira da poltrona, preso emocionalmente, interessado até o fim. Envelheceu a estética, porém, sua essência mantém-se
forte. Infelizmente não é tão reconhecido pelos fãs brasileiros do cineasta,
que parecem valorizar somente os esforços dele no gênero Western.
A Longa Viagem de Volta (The Long Voyage Home – 1940)
Após o grande sucesso de crítica e público alcançado em sua
adaptação da obra literária de John Steinbeck: “As Vinhas da Ira”, o diretor
abraçaria quatro peças de Eugene O´Neill, que também foi consultor no filme, e
construiria o que pode ser considerado uma “Odisséia”, clássico de Homero, pelos olhos de Jorge Amado, lembrei-me de “Mar Morto” de 1936. O próprio
O´Neill afirmava ter apreciado muito o filme, assim como o próprio diretor,
porém, mesmo com várias indicações ao Oscar, a obra nunca obteve popularidade
entre os cinéfilos. Méritos ela possui, como a criativa fotografia de Gregg
Toland, responsável por “Cidadão Kane”, que revolucionou a estética
cinematográfica com seu uso inovador das sombras, que viria a influenciar
profundamente o cinema Noir. Utilizando o cenário conturbado da Segunda
Guerra Mundial, o roteiro analisa psicologicamente a relação entre marinheiros
de um navio cargueiro, responsáveis por atravessar o oceano carregando
dinamite. Como o Odisseu literário, o personagem de John Wayne busca retornar
para sua casa, porém forças ocultas, duas camadas de interpretação: na mais
literal ele é vítima de “Shanghaiing”, um recrutamento forçado para outro navio/o mar nunca libera seus homens, procuram impedir seu intento. A perfeita
representação do comportamento de homens que são levados ao limite da pressão e
do isolamento, com sofisticação e poesia. Algumas cenas ficam na memória de
quem assiste, como a angustiante revelação de um dos marinheiros após ser
acusado de espionagem. Um filme que merece constar, assim como o abordado
anteriormente, nas listas de favoritos dos fãs do diretor, que ficou famoso por
sua representação do Monument Valley nos faroestes, mas que conseguia
ressoar mais profundo ao abordar os questionamentos do ser humano.
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