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Mortal Kombat – O Filme (Mortal Kombat – 1995)
Só se fala agora da péssima dublagem da cantora Pitty no
jogo “Mortal Kombat X”, então, aproveitando o tema, lembro com carinho da época
em que eu comprava revistas que vinham com jogos detonados, achando que aquilo
iria ajudar alguém, além dos editores da própria revista. Alguma manhã de
Setembro, de 1995, vinte anos atrás. A decepção de alguns dias antes, tendo
assistido no cinema o “Street Fighter”, com o Van Damme, ainda pesava na minha consciência
e, com certeza, na de todos os meus colegas do prédio, aqueles com quem travei
inúmeras batalhas no Super Nintendo. Quando “Mortal Kombat” entrou em cartaz,
apenas um dos meus vizinhos se interessou em assistir, virou motivo de chacota.
Vários meses depois, o filme foi lançado em VHS. A capa era chamativa, o
cartucho de “Mortal Kombat 2” continuava sendo assoprado, os bons gibis em
formato americano publicados pela Editora Escala, que eu comprava mensalmente
na banca de jornal da esquina do meu colégio, continuavam sendo folheados, porém,
não tive interesse algum em alugar a fita, que não parava na locadora de vídeo.
Na época, estava focado em assistir toda a obra de Buster Keaton e todos os
episódios da série clássica de “Jornada nas Estrelas”.
Um dia, na casa de um tio, após um bom par de horas tentando
ativar com meu primo os fatalities na versão para Mega Drive, ele perguntou se
eu gostaria de ver o filme, já que ele tinha conseguido alugar a fita. Com um
muxoxo, larguei o joystick e me preparei psicologicamente para o que, em minha
mente, seria um tremendo desperdício de tempo. Eu quebrei minha cara logo nos
primeiros minutos, com aquela música-tema empolgante. Ao invés de uma palhaçada
que desrespeitava o fiapo de trama do jogo, encontrei uma espécie de cópia competente
de “Operação Dragão”, versão RPG Dungeons and Dragons. Os atores tinham
carisma, pareciam com os personagens e agiam como os personagens, em ambientes
que pareciam com os cenários do jogo, com exceção de algumas liberdades nada
poéticas, era como assistir alguém jogando. E, com as exibições na “Sessão da
Tarde”, na época maravilhosa onde podíamos chegar da escola e vibrar com pancadaria
desenfreada na telinha sem o maldito politicamente correto, cheguei a memorizar
falas inteiras dessa turminha do barulho que se metia em altas confusões para
salvar o mundo dos ninjas coloridos de Shang Tsung. O filme depois entrou na
grade do “Cinema em Casa”, do SBT.
O diretor Paul W.S. Anderson, hoje mais conhecido por “Alien
Vs. Predador”, no ano seguinte, comandou a pérola sci-fi/terror “O Enigma do
Horizonte”, que foi um dos primeiros VHS’s que selecionei na locadora de vídeos
que tinha do lado da minha escola, onde também gastei várias moedas tentando
zerar os jogos da franquia. A trama começa com um pesadelo do Liu Kang, vivido
pelo Robin Shou, uma subtrama melodramática que é conduzida para um desfecho
piegas no limite do aceitável, onde achei que, a qualquer momento, começaria a
tocar “Unchained Melody”, enquanto o espírito iluminado do irmão dele viajava
ao encontro dos outros espíritos. Continuando a episódica apresentação dos
personagens principais, temos o Johnny Cage, vivido por Linden Ashby, que,
imediatamente após o final das filmagens, passou a decidir todos os seus papeis
de olhos vendados, o que é uma forma interessante de tentar entender como ele
conseguiu participar de tantas bombas. Como esquecer a introdução de Rayden, o
personagem mais poderoso do jogo, interpretado com toda a ginga e estrábica malandragem
de Christopher Lambert? O ator é uma escolha tão aleatória, tão estapafúrdia,
que acaba funcionando. É impossível não abrir um sorriso quando ele aparece em
cena.
O ponto alto são as coreografias das lutas, que emulam com
perfeição os movimentos dos lutadores do jogo, com destaque para os confrontos
de Cage e Scorpion, e, especialmente, a batalha final entre Kang e Tsung. É
decepcionante perceber como utilizaram mal a personagem Kitana, vivida pela
linda Talisa Soto, que poderia facilmente ter sido substituída por uma cadeira
de balanço. Além de não convencer como lutadora, a princesa enigmática aparece apenas,
e convenientemente, para passar instruções para os heróis, não usa o leque nem
pra afastar mosquito. Meu momento favorito, a cena que eu, quando moleque,
aguardava ansiosamente, ocorre no desfecho, quando os heróis estão indo ao
encontro do Rayden, em meio a bandeirolas azuis e brancas, após zerarem o jogo.
Uma versão genérica do imperador Shao Kahn, parecendo mais o Esqueleto do filme
do He-Man, acaba se materializando no céu e ameaça a equipe, com uma frase
clássica do jogo. Rayden responde com segurança: “Eu acho que não”. Os heróis
fazem pose, a música começa a tocar, e o filme acaba. Até hoje não sei a razão,
mas, quando criança, esse final me arrepiava dos pés à cabeça. O tempo foi
generoso com a obra, que ainda diverte bastante. Uma das melhores adaptações de
jogos para o cinema.
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