Olympia (1938)
Sabem o que é mais impressionante que perceber que um
documentário de três horas sobre as Olimpíadas de 1936, mantém-se completamente
atual em sua estética? É surpreender-se torcendo pelos atletas, reagindo como
se o evento estivesse ocorrendo hoje. O mérito da primeira constatação é da excelente
diretora Leni Riefenstahl, que forçou os limites da ferramenta que possuía
em mãos, inovando em enquadramentos ousados, planos de corte criativos e
intensos close-ups, que, não somente viriam a moldar todas as coberturas
esportivas futuras nas televisões, como também demonstrou aos seus colegas
diretores do mundo todo, que havia muito mais a ser explorado pelas câmeras de
cinema. Já o mérito da segunda constatação é do corredor negro Jesse Owens, que com sua extrema competência abalou as convicções de Hitler.
A diretora, que estava acostumada a utilizar o cinema como
propaganda nazista, viu-se pela primeira vez com um desafio. Diferente das
obras anteriores, em que tudo era controlado pelo comando militar alemão e o
próprio Fuhrer, dessa vez suas câmeras iriam documentar um evento livre de
qualquer controle, uma celebração de âmbito internacional onde os resultados
dependeriam apenas dos atletas. Ela teve a oportunidade de selecionar dentre
toda a filmagem, aqueles momentos que considerava mais simbólicos e heroicos,
enfatizando as competições mais emocionantes, e vale ressaltar a ótima trilha
sonora de Herbert Windt, que muito contribuiu para o efeito. Muita atenção é
dada aos corpos dos atletas, claramente mitificando-os e colocando-os em nível
de igualdade aos deuses gregos. Existe algo sutil que merece maior atenção, pois deixa claro
que a intenção de Riefenstahl não caminhava de total acordo com os objetivos
nazistas. A preparação para a melhor sequência do projeto, onde o negro
americano Jesse Owens, tendo vencido algumas provas, concentra-se para seu
salto à distância. Hitler é evidenciado sorrindo em sua tribuna, confiante após
a superação do difícil recorde europeu, alcançado minutos antes pelo competidor
alemão. A câmera toma generoso tempo mostrando Owens, porém, não mostra a
corrida, mas o movimento de cabeça do competidor alemão que assistia
impávido seu recorde ser quebrado por aquele que considerava ser de uma raça
inferior. No rosto do alemão alterna-se a tristeza e a admiração, algo que
jamais seria concebível em uma obra que ambicionasse apenas a propaganda nazista, algo mais presente e de forma nada sutil no anterior “O Triunfo da Vontade”.
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