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Senhorita Oyu (Oyû-Sama – 1951)
Existe uma parcela de críticos que consideram esse um dos
pontos mais baixos na carreira de Kenji Mizoguchi, mas eu discordo totalmente. O
alvo do estúdio Daiei era o público feminino do pós-guerra, então o diretor
entregava para esse mercado, com rapidez e elegância, melodramas de qualidade
superior, alternando-os a projetos mais pessoais e autorais, como “Oharu: Vida
de Uma Cortesã”, que o consagraria no mercado internacional com um Leão de
Prata, no Festival de Veneza.
Levando a trama, que originalmente no livro “Ashikari” de
Junichiro Tanizaki se passava na Era Meiji, para o Japão contemporâneo, o
roteiro de Yoshikata Yoda utiliza o erotismo inerente à obra do escritor ao delinear
o triângulo amoroso. A história aborda uma cruel negociação entre a bela viúva Oyu
(Kinuyo Tanaka), sua irmã submissa (Nobuko Otowa) e o cunhado (Yûji Hori), por
quem ela realmente se apaixona, iniciando então um jogo de sedução e negação de
desejo. O aspecto mais interessante é que Oyu finge não perceber que o cunhado
compartilha de seu sentimento, aproveitando em vários momentos para sadisticamente
provocá-lo, numa intensa dominação psicológica elevada pela excelente
interpretação de Tanaka. O mesmo roteiro, em mãos menos sofisticadas, com
certeza não estaria sendo lembrado nesse texto.
A fotografia de Kazuo Miyagawa, em sua primeira parceria com
o diretor após seu reconhecimento mundial por “Rashomon” (de Kurosawa), entrega
verdadeiras pinturas em cada cena, como aquela que finaliza o drama do personagem
vivido por Hori, caminhando sem rumo em direção à luz da lua, após ter afirmado
com seu sacrifício a maior declaração de amor possível. É possível notar até certa influência de “Aurora”,
de Murnau. A contribuição de Miyagawa, com seus infinitos tons de cinza entre o
preto e o branco, na carreira de Mizoguchi é crucial, pois transformou a
identidade visual de seus filmes, trabalhando experimentalmente com
profundidade de campo.
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