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Comando para Matar (Commando – 1985)
É fácil entender o apelo do filme com minha contraparte
infantil quando descubro que ele foi escrito por Jeph Loeb, um dos melhores
profissionais dos quadrinhos, responsável por obras-primas como “Batman – O Longo
Dia das Bruxas”. A trama não se leva a sério em nenhum momento, recheada de
frases de efeito e conclusões estapafúrdias para cenas de ação completamente absurdas,
como quando após uma brutal perseguição de carros, numa situação que caberia
perfeitamente nas páginas do Hulk, Arnold Schwarzenegger, com um braço
estendido, segura pelo tornozelo o vilão desesperado na beira de um precipício.
Eu repetia todas as cenas em casa com meus bonecos “Comandos
em Ação”, da Estrela, e “S.O.S. Comandos”, fabricados pela Gulliver, que vários
anos depois eu fui descobrir que eram versões nacionais da linha de bonecos
feita exatamente para o filme. Eu achava que o Cronos era muito parecido com o herói
John Matrix que eu assistia com os olhos grudados na televisão de quatorze
polegadas, com direito ao mesmo corte de cabelo e uniforme, mas não imaginava
que se tratava do boneco oficial do personagem, que a empresa brasileira tratou
de trocar o nome para não ter que pagar os custos de licenciamento. Sempre que recordo essa época, não consigo deixar de pensar
que nenhuma criança se tornava mais violenta por brincar com granadas de
plástico e facas do “Rambo”, peças que faziam parte dessas coleções, assim como
as camuflagens de guerra, minhas favoritas. Era uma geração que foi ensinada a
saber discernir a diferença entre a realidade e a ficção escapista, enquanto
hoje, com a aprovação de leis absurdas, até mesmo os desenhos animados infantis
estão com os dias contados na televisão aberta.
Voltando ao filme dirigido por Mark L. Lester, acho interessante salientar que ele, de
certa forma, foi responsável por um clássico do gênero, muito mais lembrado e respeitado,
o “Duro de Matar” (Die Hard – 1988). O projeto nasceu de uma ideia para a
sequência, adaptada do livro “Nothing Lasts Forever”, de Roderick Thorp, que,
por sua vez, era a continuação literária de uma ótima adaptação protagonizada
no cinema por Frank Sinatra: “Crime sem Perdão” (The Detective – 1968). Então
seria justo afirmar que o filme de Bruce Willis é o filho natural da bizarra união
cinematográfica entre Schwarzenegger e Sinatra. Brincadeiras a parte, acho
fascinante vasculhar os bastidores desse mundo mágico. É impossível falar do filme sem citar a excelente dublagem
da Herbert Richers, com o embate entre Garcia Júnior (Arnold) e André Filho
(Vernon Wells), captando perfeitamente o espírito debochado do roteiro, um
pastiche do subgênero “action hero” (o que Bud Spencer e Terence Hill
representam, por exemplo, para o Spaghetti Western), transposto em cenas como a
incrível queda do herói, de um avião em movimento acima dos prédios, direto em
uma poça d’água, levantando-se com a roupa seca em segundos, como se nada
tivesse acontecido. Frases como: “Eu como boinas-verdes no café da manhã”,
ditas por um ex-combatente que se camufla como um tanque de guerra humano e
mata o vilão com um imenso cano de ferro atravessado na barriga, parecem saídos
das páginas dos quadrinhos.
E são esses elementos que mantém a obra como um
entretenimento eficiente ainda hoje, enquanto praticamente todos os
representantes do gênero da década de oitenta, vistos hoje, causam apenas
vergonha alheia. Parece que estão planejando uma refilmagem, mas não duvido que
os “espertos” produtores cometam o equívoco primordial de levar a sério a trama
nessa releitura, arruinando o projeto. É uma pena que eu não tenha guardado o
pôster do filme que tomava quase metade da minha parede em meados da década de
oitenta. Bons tempos em que uma criança podia ter como herói um brutamonte com granadas
no peito e empunhando uma metralhadora apoiada no trapézio.
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