Batman – A Máscara do Fantasma (Batman: Mask of the Phantasm
– 1993)
Quando os mais temidos gangsters da cidade são
sistematicamente eliminados, o Cavaleiro das Trevas sente-se ludibriado. Mas
rondando as noites de Gotham está um novo e sombrio vilão, o Fantasma, uma
figura sinistra ligada de alguma maneira ao passado do herói. Poderá o
Homem-Morcego esquivar- se da polícia, capturar o Fantasma e limpar seu nome?
Uma das minhas primeiras grandes lembranças cinematográficas
de criança foi de ser impactado pela massiva campanha de marketing do “Batman”
de Tim Burton. Eu tinha álbum de figurinhas, adesivo de janela, chaveiro,
adaptação do filme em quadrinhos, vinil com a trilha sonora e bonecos, além de ter
uma festa de aniversário temática com o Michael Keaton ornamentando o bolo. Era
impossível não perceber naquele ano que o personagem havia conquistado a tela
grande. Alguns anos depois, sem a mesma intensa divulgação, eu fiquei
conhecendo a animação que abordo nesse texto. Eu tinha por volta de nove anos,
já me considerava mais maduro do que aquele menino de outrora, que colecionava um
terrível álbum cujas figurinhas pareciam ser sempre as mesmas, só que em
diversos ângulos.
O que me perturbava era que eu não havia gostado da
animação, não tinha me cativado emocionalmente. Eu tinha memorizado todos os
diálogos clássicos do confronto cinematográfico entre Keaton e Jack Nicholson,
ficava repetindo: “você já dançou com o demônio sob a luz do luar?”, como se
não houvesse amanhã. Mas aquilo era desenho animado, coisa de criança, algo que
tinha certeza de que já havia deixado de ser. O caso é que precisei apenas
rever o filme uns anos depois, para que eu entendesse a razão do estranhamento:
o roteiro não era infantil. Em muitas maneiras, o trabalho de Paul Dini, Alan
Burnett, Eric Radomski e Bruce Timm estava à frente de seu tempo, com o
diferencial importante de não terem precisado retirar da equação sombria o
elemento da diversão. Mesmo depois do bom “Batman – O Retorno” e da excelente trilogia
de Christopher Nolan, eu continuo achando que essa animação é a melhor
representação do personagem nessa mídia. Um produto que foi imaginado como
apêndice de uma série televisiva, feito às pressas e sem expectativa dos
produtores, mas que foi abraçado ternamente pelo severo tempo.
A trama, inspirada por “Ano Um” e, especialmente, “Ano Dois”
(Frank Miller e Mike Barr, respectivamente), era violenta e com influências do
Noir, mas o fator mais interessante e atípico era o tempo dedicado ao
aprofundamento nas motivações dos personagens. Analisando em comparação com as inferiores
animações similares produzidas pela DC hoje, onde o foco está sempre nas cenas
de ação, merece reconhecimento o interesse na construção psicológica do
protagonista, em cenas soturnas e, num toque de gênio, silenciosas. Eu
considero espetacular aquele breve momento onde Bruce Wayne (Kevin Conroy) finalmente
aceita o fardo de sua vida, consciente de que estava abdicando de todos os seus sonhos, vestindo o manto do morcego. Com utilização
expressionista de sombras e uma trilha sonora épica de Shirley Walker, testemunhamos
a reação apavorada de Alfred (Efrem Zimbalist Jr.) ao perceber que está agora diante
de um estranho, um elemento da natureza que caminha lentamente em passos
fúnebres, como se carregasse o peso da culpa em suas costas. Essa simples cena alcançou
o que nenhuma adaptação conseguiu até hoje, resumindo perfeitamente a essência
do que representa o personagem.
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