A Caça (Jagten - 2012)
O diretor dinamarquês Thomas Vinterberg provou com "A
Caça", ter amadurecido em seu estilo, enquanto seu polêmico colega de
Dogma 95 (ainda que, com maior senso de marketing pessoal), Lars Von Trier,
continua "falando muito e fazendo pouco". Escolhendo revisitar o tema
de seu primeiro filme: "Festa de Família", mas sem a estética crua,
ele abraçou o potencial emocional de um protagonista cuja inocência nos é
apresentada de início.
A bela fotografia de Charlotte Bruus Christensen auxilia ao emoldurar o cair
das folhas de outono, inclusive como metáfora, simbolizando o crepúsculo de um
homem oprimido, sendo complementada pela excelente interpretação de Mads
Mikkelsen, que foge de sua zona de conforto, oferecendo um retrato humano e
passional. Nenhuma chance é dada a ele, pois todas as famílias da região
agarram-se ao inconsciente coletivo do pavor, temendo que ele se aproxime de
suas crianças. Lucas (Mads) é um homem bom, adorado por seu filho e seus
alunos, incapaz de cometer atos tão cruéis. Somos levados então a um calvário
pessoal, onde progressivamente todos os membros da comunidade passam a duvidar
de sua inocência. A jovem Annika Wedderkopp (Klara) surpreende com uma
excepcional atuação infantil, diferente da celebrada menina de "Indomável
Sonhadora", que apenas seguia instruções do diretor. Vinterberg nunca
apela para o óbvio, enaltecendo mártires e pintando com tintas fortes os
vilões, pois prefere mostrar todos como seres humanos falíveis e propensos a
escolhas erradas. O leitmotiv da confiança é explorado até o brilhante
desfecho, onde o roteiro ainda inclui uma poderosa crítica social e religiosa.
O simples benefício da dúvida já seria o suficiente para auxiliar no processo
angustiante em que o protagonista se vê vitimado, mas a mensagem que o filme
aborda é cruel em sua veracidade: a sociedade,desde o início dos tempos, sempre esteve propensa ao apedrejamento coletivo, algo que requer menos
argumentação que a árdua tarefa de tentar enxergar a flor no lodo.
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