Como era maravilhoso ser adolescente na década de oitenta.
Quem viveu a época, sabe a sensação de ligar a televisão de tarde, após uma
manhã estafante na escola, e escutar aquela trilha sonora eletrônica
característica, que sempre emoldurava altas paqueras em Fort Lauderdale e Miami
Beach. Aquelas belas garotas de biquíni e a consequente nudez eventual, que
torcíamos para que ocorresse com mais frequência. Morríamos de rir com as
tentativas desastradas dos rapazes, sem nos preocuparmos com a pobreza dos roteiros.
Estávamos num estágio anterior aos “Emmanuelle’s” das madrugadas da Rede
Bandeirantes, sendo presenteados de vez em quando pelas pornochanchadas
nacionais que o SBT exibia nas noites de Domingo, como a inesquecível “Clara
das Neves” vivida por Adele Fátima. Não tínhamos internet, nem TV a cabo. As
comédias sexuais adolescentes eram verdadeiros eventos quando eram exibidas nas
tardes, forçando-nos a atrasar a entrega dos deveres de casa do dia seguinte.
Maldito “politicamente correto”.
Pensando nessa época maravilhosa, passei alguns dias revendo
vários filmes do gênero. Alguns que eu achava muito bons outrora, como “Clube
dos Cafajestes”, “Primavera na Pele”, “A Vingança dos Nerds” e “Uma Escola
Muito Especial, Para Garotas”, perderam pontos nessa revisão. “O Último
Americano Virgem”, uma cópia exata do israelense “Sorvete de Limão” (de 1978), dirigido pelo mesmo Boaz Davidson, foi outro que não sobreviveu tão bem ao teste do tempo. Alguns eu considerei
limpos demais, como “Namorada de Aluguel” e “Loverboy”, o que resultou na
exclusão deles do TOP 10, ainda que tenham ocupado posições próximas. Os que eu
selecionei possuem elementos característicos, como certa grosseria no humor,
audácia e sensualidade. E, claro, são garantia de um ótimo entretenimento, tão
divertidos hoje quanto na época em que eu os assistia com o uniforme da escola.
Esses são os meus favoritos:
10 – As Patricinhas de Beverly Hills (Clueless – 1995)
Em Beverly Hills, uma adolescente, filha de um advogado muito
rico, passa seu tempo em conversas fúteis e fazendo compras com amigas
totalmente alienadas como ela. Mas a chegada do enteado de seu pai muda tudo,
primeiro por ele criticá-la de não tomar conhecimento com o "mundo
real" e em segundo lugar por ela descobrir que está apaixonada por ele.
Normalmente os filmes do gênero se focam nas aventuras dos
rapazes, então é válido celebrar o esperto roteiro de Amy Heckerling, que emula
a sensibilidade de John Hughes ao retratar as angústias adolescentes femininas.
O filme capta com perfeição a juventude consumista da década de noventa. Alicia
Silverstone encarna a alienação da geração que recebia todos os
cartões de crédito, mas carecia da atenção de seus pais. Uma legião de zumbis
que peregrinavam diariamente aos Shopping Centers, com trejeitos e expressões
calculadas e padronizadas.
9 – A Última Festa de Solteiro (Bachelor Party – 1984)
Rick Gasko, um motorista de ônibus escolar, está a ponto de
se casar com Deborah Julie Thompson. Os pais dela o odeiam e o ex-namorado dela
também, assim, usando o dinheiro que eles têm, planeja criar uma situação que
faça com que Debbie, desista de Rick. Para complicar ainda mais, os amigos dele
resolvem promover uma despedida de solteiro que, como todas as despedidas de
solteiro, é em um hotel caro, com muita bebida, prostitutas e filmes
pornográficos.
Já na primeira sequência, onde acompanhamos Tom Hanks
dirigindo o ônibus escolar católico mais politicamente incorreto da cidade,
percebemos estar diante de um roteiro audacioso. Sem concessões, as piadas
grosseiras vão num crescendo, correndo riscos e sendo amparadas pela química do
elenco. “Se Beber, não Case”, filho legítimo desse projeto, mesmo tendo sido realizado
décadas depois, não consegue superar essa pequena gema em seu gênero.
8 – American Pie (1999)
A história de quatro amigos adolescentes que firmam um pacto
totalmente "nerd" semanas antes de se formarem no ginásio. Segundo
esse pacto, todos eles deveriam transar com alguma mulher antes de se formarem,
ou até exatamente a noite de formatura.
Após várias sequências fracas, muitas para o mercado de
vídeo, podemos cometer o erro de banalizar a importância dessa comédia de baixo
orçamento. Mas basta analisá-la em contexto, para constatarmos que o sucesso
dela foi crucial no interesse dos produtores em resgatar a “comédia sexual
adolescente”, que estava em coma durante a década de noventa. Sem “American Pie”,
com certeza não teriam recebido sinal verde as comédias de Judd Apatow. O
projeto também redirecionou a carreira de Eugene Levy (que vive o pai do
protagonista), um excelente comediante que nunca havia sido realmente abraçado
pelo grande público. Jason Biggs chegou a interpretar o protagonista de “Igual
a Tudo na Vida”, sob a direção de Woody Allen. O filme serviu como uma
nostálgica homenagem à fórmula, com uma ternura poucas vezes vista no gênero.
7 – Férias da Pesada (Fraternity Vacation – 1985)
Durante um feriado, dois jovens vão à caça de garotas em
Palm Springs, eles levam o último dos nerds, Wendell, somente porque seus pais
pagariam toda a viagem.
Também conhecido como “A Primeira Transa de Um Nerd” e “Quando
a Turma Sai de Férias”, esse eu perdi a conta de quantas vezes assisti quando
adolescente. Eu me identificava demais com o personagem nerd vivido por Stephen
Geoffreys (que fez “A Hora do Espanto” e, anos depois, virou ator pornô
homossexual), mas não tinha amigos populares bacanas como os dele. É legal
perceber a presença, numa ponta, do Sr. Tanner da série “Alf – O ETeimoso”, Max
Wright, como o pai do jovem nerd. Tim Robbins, antes da fama por “Um Sonho de
Liberdade”, interpreta um dos amigos do garoto. Dentre as cenas que continuam
muito engraçadas, vale ressaltar o encontro do nerd com os pais de sua primeira
namorada, vivida por Amanda Bearse (de “A Hora do Espanto” e da série “Married
With Children”), além do hilário momento em que os dois rapazes populares se
preparam para dividirem a cama com duas beldades, Barbara Crampton e Kathleen
Kinmont. Existiam outros filmes do gênero melhores, mas nutro um carinho
especial por esse, talvez porque naquela época eu sonhava que aparecesse alguma
garota na turma como a belíssima Sheree J. Wilson, que visse além dos óculos e
da timidez desajeitada do nerd.
6 – Mulher Nota Mil (Weird Science – 1985)
Gary Wallace e Wyatt Donnelly são dois adolescentes nada
populares com o sexo oposto. Eles resolvem criar no computador de Wyatt, a
mulher que eles acreditam ser a ideal. Uma tempestade dá vida a ela, que é
"batizada" como Lisa, que é sexy, bonita, determinada, fiel aos seus
criadores, mas com um modo de ser que deixa desconcertados todos que cruzam o
seu caminho.
Não podia faltar na lista uma obra do mestre John Hughes,
ainda que seus projetos fossem refinados demais para o que estávamos
acostumados no gênero. O roteiro falava diretamente ao desejo de cada
adolescente introvertido, mostrando dois garotos criando no computador a mulher
ideal, com a sensualidade absurda de Kelly LeBrock, que já havia desconcertado
Gene Wilder em “A Dama de Vermelho”, no ano anterior. Como era característico,
não podia faltar na trilha sonora uma contribuição do Oingo Boingo, gênese de
Danny Elfman, parceiro constante de Tim Burton. A grande tirada do filme é a
Lisa, desajustada na sociedade (como o monstro de Frankenstein), ajudando os
garotos a serem respeitados por seus colegas. E é bacana encontrar, numa ponta,
um jovem Robert Downey Jr. Mas a cena que lembro, sempre que penso no filme, é
aquela em que os dois garotos (Anthony Michael Hall e Ilan Mitchell-Smith)
estão tomando banho com Lisa. Todos os garotos da turma, no dia seguinte, só
falavam nisso...
Continua...
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