Sou completamente fascinado pela criação máxima de Arthur
Conan Doyle, o detetive Sherlock Holmes. Um personagem tão rico em minúcias
psicológicas, que muitos leitores acreditavam que ele havia realmente existido.
Ficamos conhecendo-o mediante esparsas observações que o escritor nos entrega
ao longo das várias novelas e contos, sempre pelo ponto de vista do Dr. John H.
Watson, o que acaba nos incitando a utilizar os mesmos métodos de dedução
lógica de Holmes, como forma de entender suas motivações. Esta investigação que
o leitor empreende com o prazer que advém de toda literatura de qualidade,
acaba viciando-o. Novas descobertas surgem a cada revisão, uma prova da
genialidade de Doyle.
Os motivos citados no parágrafo acima são suficientes para
demonstrar a tristeza que sinto, quando percebo que este complexo personagem é
reconhecido hoje em dia pelos jovens, como o brincalhão bom de briga
interpretado por Robert Downey Jr. nos dois filmes medianos de Guy Ritchie.
Tendo lido alguns comentários de fãs dos filmes, que ao buscarem o material
original consideraram muito chato, chego a triste conclusão que a juventude do
início do século vinte, mesmo sem as facilidades tecnológicas de hoje, era
tremendamente mais inteligente, ou menos preguiçosa, que os aspirantes a “Steve
Jobs” de hoje.
Enquanto os filmes de Ritchie entregam um divertimento tolo
e um personagem diluído em excesso, vale salientar a extrema qualidade da
moderna série da BBC: “Sherlock”, criada por Mark Gatiss e Steven Moffat.
Atualizando o cenário, porém respeitando a essência da criação de Doyle, os
roteiros dos episódios são melhores que os de muitos filmes que aportam todas
as semanas em nossas salas de cinema.
Meu intérprete favorito continua sendo Basil Rathbone, que
capitaneou quatorze produções entre 1939 e 1946. As primeiras nos
estúdios 20th Century Fox, os excelentes “Sherlock Holmes – O Cão dos
Baskervilles” (The Hound of the Baskervilles – 1939) e “As Aventuras de
Sherlock Holmes” (The Adventures of Sherlock Holmes – 1939, onde o protagonista
fala o clássico: “Elementar, meu caro Watson”), foram pioneiras ao
retratar o personagem no período Vitoriano (somente nos dois primeiros filmes),
sendo coerentes aos livros. Quando as produções vão para os estúdios Universal beneficiam-se
com a formidável química entre Rathbone e Nigel Bruce, que elabora um Dr. Watson
mais bonachão, como um necessário alívio cômico. Meus três filmes favoritos
dentre os doze feitos para a Universal são: “Sherlock Holmes – A
Mulher de Verde” (The Woman in Green – 1945), “Sherlock Holmes – A Melodia
Fatal” (Prelude to Murder – 1946) e “Sherlock Holmes e a Arma Secreta” (Sherlock
Holmes and The Secret Weapon – 1943), dirigidos por Roy William Neill. Os três
utilizam apenas referências a alguns contos, porém fazem-no de forma charmosa e
inteligente, inserindo inclusive o personagem no contexto da Segunda Guerra
Mundial, como era comum na época, em filmes e revistas em quadrinhos.
Os
filmes da série são ingênuos (o vilão Moriarty morre em três produções), mas
tremendamente divertidos. Caso queiram uma adaptação inteligente que seja fiel
ao cânone do escritor, prestigiem a série da BBC. Finalizando esta modesta
homenagem ao legado de Doyle, devo dizer que dentre todos os livros e contos,
recomendo a todos que estão interessados em conhecer o personagem, a leitura da
primeira parte de “Um Estudo em Vermelho” (pois estabelece a relação entre os
protagonistas), seguida daquela que considero a melhor obra: “O Signo dos
Quatro”. Provavelmente ao virarem a última página, estarão extasiados com o
tema e prontos para aventurarem-se com o detetive da Rua Baker pelo resto de
suas vidas.
Sou suspeita pra falar, pois sou fã de Doyle praticamente desde a infância. E "O Signo dos Quatro" foi o que li primeiro, rs... Lembro que, na faculdade, tínhamos de escrever uma crônica nas aulas de Composição I e minha inspiração foi "O Cão dos Baskervilles", rs... Bela homenagem! :)
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